A violência doméstica também atinge os muçulmanos

Outubro passado (1999), foi o Mês da Consciência da Violência Doméstica em todo o mundo. De 3 milhões a 4 milhões de mulheres apanham anualmente, e a cada 15 segundos uma mulher é molestada em sua própria casa. Em termos nacionais, a violência doméstica é a causa número um de morte entre as mulheres. Algumas pessoas reagirão, dizendo: "Esta é uma tragédia que não afeta as famílias muçulmanas."

Mas, afeta sim. Ainda que as pesquisas sobre a difusão da violência familiar entre muçulmanos estejam apenas começando, imams, líderes comunitários e assistentes sociais na América do Norte confirmam que homens, mulheres e crianças muçulmanos estão sendo afetados por este devastador problema social.

O Fundo para a Prevenção da Violência Familiar descreve o abuso doméstico como "um modelo de comportamentos propositados, direcionados para se alcançar a submissão da vítima ou o controle sobre ela." O abuso doméstico se caracteriza por uma forma de ataque e comportamento coercitivo, inclusive ataques físico, sexual e psicológico, assim como a coação econômica. Tais comportamentos incluem empurrões, destruição de valores, ferimentos em animais de estimação e até em crianças.

A violência física pode levar à fratura de ossos, lesões na cabeça, perda de visão e até à morte. Entre as vítimas, o abuso emocional leva a um espírito alquebrado, com sentimentos de desesperança, opressão e desamparo. A violência doméstica não conhece fronteiras ou limites. Ocorre entre os membros de uma comunidade, sejam eles conhecidos ou não, ricos ou pobres, instruídos ou não, estrangeiros ou americanos, de todas as culturas e grupos raciais e religiosos, inclusive os muçulmanos, convertidos ou não.

Os sinais da violência doméstica incluem o comportamento controlado, o isolamento, a raiva descontrolada, hematomas inexplicados, padrões de pensamento irracional, intimidação, "piadas" sobre arrumar uma outra esposa, apelidos e observações que degradam a auto-estima da vítima. A violência doméstica tem um padrão cíclico, que vai da explosão ao remorso e, finalmente, de volta à explosão. Mulheres e homens são as vítimas. Muitas vezes um cônjuge inflige um sofrimento ao outro mas ambos os cônjuges podem se ferir um ao outro.

Nessas famílias, as crianças são as vítimas mais vulneráveis. A maioria das mulheres espancadas têm crianças machucadas física e emocionalmente pelo violência em seus lares. Mais da metade das crianças cujas mães apanham estão propensas a sofrer abusos físicos. O abuso doméstico também ocorre durante a gravidez e pode afetar gravemente a criança ainda no útero. De 8% a 26% das mulheres espancadas estavam grávidas durante o abuso. Quando as crianças são criadas em lares violentos, normalmente quando crescem perpetuam o ciclo de violência em suas futuras famílias.

A violência contra a mulher não faz parte da tradição islâmica. O Profeta Mohammad (saw) orientou os muçulmanos a respeitarem as mulheres. "Eu ordeno que sejais gentis com as mulheres." Ele também disse: "O melhor dentre vós é o melhor para a sua família (esposa)". O Alcorão insiste em que os maridos sejam gentis e atenciosos com suas esposas, ainda que elas se indisponham com os maridos ou que o desamor cresça dentro dele. Também foi proscrita a prática dos tempos pré-islâmicos de se herdar as mulheres como parte do patrimônio do falecido. Uma tradução do Alcorão diz "Ó fiéis, não vos é permitido herdar as mulheres contra a vontade delas, nem as atormentar, com o fim de vos apoderardes de uma parte daquilo com que as tenhais dotado, a menos que elas tenham cometido comprovada obscenidade. E harmonizai-vos com elas, pois se as menosprezardes, podereis estar depreciando seres que Deus dotou de muitas virtudes." (Alcorão 4:19)

O Dr. Jamal Badawi, autor de "Gender Equity in Islam", discute o capítulo 4, versículo 34 do Alcorão, que é muitas vezes usado para justificar maus tratos nas mulheres. Ele indica: "Em hipótese nenhuma o Alcorão estimula, permite ou desculpa a violência familiar ou o abuso físico. Nos casos extremos e sempre que um malefício maior, como o divórcio, é a opção possível, num esforço de salvar o casamento, é permitido ao marido dar uma palmada leve com miswak (uma pequena escova de dentes natural) em sua esposa, desde que não provoque qualquer espécie de dano físico ao corpo nem deixe. marcas. Pode servir para chamar a atenção da esposa para a gravidade de continuar com um comportamento irracional e somente se recorre a ele após esgotar-se os outros recursos."

O Profeta Mohammad (saw) disse "Não batam nas servas de Allah;" "Algumas (mulheres) visitaram minha família se queixando de seus maridos (que batiam nelas). Esses (maridos) não são os melhores dentre vós:" e "(não é vergonhoso) que um de vós bata na esposa como (uma pessoa inescrupulosa) bate num escravo e depois vá dormir com ela ao final do dia?" (Riyadh al-Salihin, p 137/140). Em um outro hadith, o Profeta (SAW) disse "... Como um de vocês bate na esposa como bate no camelo, e depois a abraça (dorme com ela) ..." (Sahih al-Bukhari, vol. 8, hadith 68, pag. 42/3)

A violência doméstica é evitável através da construção de nossa fé, da recordação e implementação dos mandamentos de Allah e do exemplo de Seu Profeta (SAW). A preparação para o casamento e o aconselhamennto premarital pode ajudar os futuros esposos a aprenderem as condições paraa criar uma vida familiar saudável e livre da violência. Adminsitrar a raiva e o stress, desenvolver a habilidade de comunicação, tomar as decisões corretas para resolver os problemas são também muito importante na prevenção da violência doméstica.

Não podemos ser tolerantes com a violência familiar em qualquer grau. Este problema só será eliminado se agirmos. Precisamos reconhecer os sinais da violência conjugal e agirmos para prevení-la e trabalharmos para a sua eliminação. NNão devemos estimular casamentos entre indivíduos com histórico familiar de abuso doméstimo que não tenha sido resolvido através do aconselhamento e do sincero arrepenndimento. Os casais devem ser estimulados a procurar ajuda profissional e espiritual.

É necessário criar abrigos para crianças e mulheres que buscam amparo e proteção num ambiente islâmico. Os serviços sociais devem propiciar uma educação preventiva, apoio e intervenção na crise.

(*)A autora desse artigo é Aneesah Nadir, fundadora da Associação dos Serviços Sociais Islâmicos nos Estados Unidos..

Fonte: sbmrj.org.br

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