O Casamento Islâmico II

Louvado seja Deus, Senhor do Universo e a Quem somente pedimos ajuda. Aquele a quem Deus orienta ninguém desencaminhará e a quem Deus desencaminha não há quem possa guiá-lo. E eu dou meu testemunho de que não há outra divindade além de Deus, o único e que Mohammad é seu servo e Mensageiro.


Com a citação acima, ou outra semelhante, o muçulmano inicia qualquer ação importante, como, por exemplo, ler ou mostrar aos colegas, este pequeno trabalho ou algo importante como um casamento.

Gostaria de dizer que o que vou descrever é a forma como o casamento islâmico acontece. Para tal, eu me baseei em textos selecionados do Alcorão e das Sunas (tradição do profeta Mohammad) (que a paz e a bênção de Deus estejam com ele). Tive o cuidado de transcrevê-los na língua original da revelação, com a devida tradução.

Casamento: em árabe, Nikah, que literalmente significa conexão e duplicação.

Islamicamente: contrato de casamento que legitimado traz uma concordância do Alcorão e da Suna.

Nikak é uma tradição (legalizada) praticada pelos mensageiros de Deus. Disse Deus, o Altíssimo, no Alcorão:

"Enviamos mensageiros antes de vós e lhes demos esposas e filhos." (Alcorão 13:38)

e o Profeta e Mensageiro de Deus, Mohammad (que a paz e a bênção de Deus estejam com ele), disse:

"… e eu caso com as mulheres e aquele que não aceita minhas práticas, ele/ela não pertence a mim."

Sobre o casamento islâmico:

O Profeta e Mensageiro de Deus, Mohammad (que a paz e a bênção de Deus estejam com ele) disse:

"Os jovens que podem enfrentar a dificuldade das despesas com o casamento devem casar-se, porque dessa forma estará protejendo o olhar e a genitália."

Ilícito é deixar de se casar por achar que assim se adora melhor a Deus. Isto é um desvio do que estabelece as Sunas. O casamento é uma obrigação para aquele que teme cair em adultério (a relação sexual fora do casamento é considerada adultério, seja praticada por casados ou solteiros de ambos sexos). Além disso, é preferível o casamento ao invés da prática voluntária da adoração, tendo em vista seus benefícios. Da tradição profética citada acima, pode-se concluir os seguintes benefícios:

- Desvio do olhar;
- Proteção da genitália;
- Agir de acordo com o exemplo dado e praticado pelo Profeta e Mensageiro de Deus, Mohammad (que a   paz e a bênção de Deus estejam com ele).
- Crescimento da comunidade;
- Permitir que homens e mulheres exercitem e usufruam o prazer de seus instintos de uma forma lícita.
- Permitir que homens e mulheres se avaliem uns aos outros pelos meios da convivência. O homem que     não vive com uma mulher não sabe quem é realmente a mulher, e vice- versa.
- Aproximar as pessoas através de ligações firmes.

As festas muçulmanas são formas de adoração a Deus e, portanto, a festa de casamento também o é. Deve ser dito que não existe uma cerimônica de noivado e/ou de casamento islâmico. Há uma festa de "urs" (núpcias) e uma outra chamada "walimah", que acontece de 3 a 7 dias após a consumação do casamento.

No Brasil diz-se que "quem casa quer casa", o que quer dizer que quem se casa precisa de um lar. Os recém-casados preferem consumar o casamento em sua própria casa, aquela escolhida para a futura moradia. Consequentemente, não existe a viagem de lua-de-mel, porque se espera que a vida em comum seja uma eterna lua-de-mel. Do terceiro dia ao sétimo, contados do isolamento do casal, ambos recebem os convidados para o "walimah". A seguir, descrevo alguns detalhes de ambas as ocasiões, sob a forma de cenas de um casamento islâmico.

Cena número 1:

É mais do que desejável que as mulheres sejam apresentadas na festa do "urs", que deverá ter instrumentos musicais e canções, o que torna oficial a aceitação pelas partes, do anúncio do casamento. Há um relato de uma tradição do Profeta e Mensageiro de Deus, Mohammad (que a paz e a bênção de Deus estejam com ele), sobre isto e, o mais interessante, é que uma mulher pode realizar a cerimônia de casamento.

Aisha (nome feminino muçulmano) disse que ela realizou o casamento de uma mulher com um homem dos ansar (o nome de uma comunidade muçulmana), e, então, o Profeta de Deus (que a paz e a bênção estejam com ele) disse: "ó Aisha, não há divertimento com você? Porque os ansar gostam de diversão."

Também faz parte da tradição que a festa da declaração de casamento "urs", seja feita rapidamente.

Cena número 2:

A "noiva" participa da recepção com os convidados, inclusive os masculinos. é da tradição a citação de que
quando Abu Usaid Assa-idy se casou, ele convidou o profeta e seus companheiros (nome dado aos muçulmanos que abraçaram o Islam e que conviveram pessoalmente com o Profeta Mohammad), não tendo sido oferecido qualquer comida, exceto a que foi ofertada por Um u-said (a noiva). Portanto, coube à noiva, que servia os convidados pessoalmente, ainda que fosse a noiva naquele dia.

Curiosidade: não existe uma roupa específica para ser usada no casamento. A "inovação" da roupa branca adotada por não muçulmanas veio de Maria Stuart, da Escócia. Outra curiosidade é o ditado árabe (não necessariamente muçulmano) que diz: as pessoas agem como seus reis na religião, razão pela qual esta roupa foi adotada pelas mulheres em todo o mundo.

Cena número 3:

O Islam é, por excelência, contrário a complicações e o casamento é anunciado na presença de testemunhas. Há o registo no cartório de um documento escrito, para preservar direitos do casal e de seus descendentes. O detalhe é que a mulher que está se casando pela primeira vez, levando-se em conta sua timidez em frente aos presentes, não precisa declarar sua aceitação em
voz alta. A sua não aceitação é que deve ser expressa em voz alta para que todos a ouçam. A mulher que se casa pela segunda vez ou mais, o escrevente somente registrará sua aceitação após a sua manifestação em voz alta para que seja ouvida pelas testemunhas. Este ato pode ser preferencialmente feito na mesquita ou em qualquer outro local da escolha do casal comprometido.

Os recém-casados podem usar alianças de casamento feitas de qualquer material que tenha sido escolhido por eles. O detalhe é que é proibido para os homens o uso de ouro (aqui há uma concessão para as mulheres que apreciam os enfeites). O Islam considera o ouro como um metal que participa da economia e por causa disso não deve ficar entesourado. O seu uso em qualquer coisa deve estar de acordo com a atitude com relação ao uso das alianças, cuja explicação sobre suas origens foi transcrita sob a forma de resposta a uma pergunta feita por Angela Talbot, repórter da revista Women, publicada em Londres,
em 29/03/60, pág. 8:

Pergunta: Por que a aliança de casamento é colocada no terceiro dedo da mão esquerda?

Resposta: Diz-se que há uma veia que corre diretamente deste dedo para o coração. Existe, também, um antigo costume, pelo qual o noivo colocava a aliança na ponta do polegar esquerdo da noiva, dizendo: "em nome do pai no primeiro dedo, em nome do filho, no segundo dedo e em nome do espírito santo, amém." A aliança era finalmente colocada no terceiro dedo, onde permanecia.

Cena número 4:

Na noite de núpcias, faz parte das boas maneiras que o noivo coloque sua mão sobre a cabeça da noiva e peça a bênção de Deus, de acordo com uma tradição do profeta:

O noivo deve sempre colocar sua mão na frente da cabeça da noiva e mencionar o nome de Deus, o Todo
Poderoso, e pedir Sua boa vontade.

Cena número 5:

Faz parte da tradição que os noivos rezem assim que fiquem sozinhos.

Se o noivo ou a noiva estiverem sozinhos, eles devem juntos fazer duas prostrações e pedir a Deus a compreensão do outro e solicitar proteção contra o mal no outro, após o que podem ter relações sexuais.

No Islam, não há espaço para atitudes românticas, tais como levar a noiva no colo para dentro de casa. De acordo com o escritor francês, Fustel de Coulanges, em seu livro "La Cité Antique", onde ele descreve antigos costumes romanos, esta atitude acontecia quando a noiva, que tinha seu próprio deus, que não era o deus de seu noivo,    comprometia-se a adorar o deus do marido. Assim, ele tinha que carregar a esposa em seus braços com todo o cuidado para que os pés dela não tocassem o chão da casa, santificada pelos deuses que ela ainda não adorava. Somente após a aceitação dos deuses domésticos do marido é que ela estava apta a tocar o chão. Como se vê, faz parte de um costume politeista de Roma e também da antiga Grécia. é bem provável que venha daí o gesto de o noivo de levar sua noiva para a cama. O Islam, religião
monoteista por execelência, não inova introduzindo outras práticas que são parte de uma cultura politeista por exelência.

Cena número 6:

A obrigatoriedade do "walimah" (comida na festa do casamento) consiste de uma tradição islâmica. Consta de uma tradição profética que ele disse: a diferença entre o casamente e o ato sexual ilícito é o seu anúncio público.

Cena número 7:

As despesas do "walimah" não devem ficar restritas aos parentes. É bom que os amigos do casal colaborem com o "walimah".

Cena número 8:

É da boa educação aceitar o convite para o "walimah". O Profeta e Mensageiro de Deus, Mohammad (que a paz e a bênção de Deus estejam com ele) disse:

"Se alguém é convidado para comer, deve aceitar este convite. Se quiser, pode comer ou não."

Cena número 9:

Ao invés dos tradicionais cumprimentos do tipo "harmonia e muitos filhos", dizer, por exemplo: Que Deus os abençoe e que Sua bênção esteja com vocês e que os mantenha unidos na boa vontade."

FONTES:

Alcorão
Sahih Al Bukhari
Sahih Muslim
Sunan Abu Dawoud
As Boas Maneiras na Suna, escrito por Muhammad Nasruddin Al Albani, 5ª Ed.

Nota: O presente trabalho foi escrito por Anas Ayoubi, 15, estudante da 8ª série do Lycée Molière, para o curso de inglês.
 

Por Anas Ayoubi

Fonte: sbmrj.org.br

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