O Mapa d Piri Reis

INTRODUÇÃO

O mapa de Piri Reis é o primeiro que resistiu ao tempo, que mostra as Américas (o mapa de Vinland pode ser mais velho, mas apenas mostra uma parte da América do Norte). O de Piri Reis mostra a América do Norte, a América do Sul, a Groenlândia e a Antártica, que ainda não tinham sido descobertas naquela época.

O mapa foi feito por um almirante turco, Piri Ibn Haji Mehmed. Reis significa almirante. O mapa ficou perdido e somente redescoberto em 1929, por um grupo de historiadores que trabalhava em um dos prédios do Palácio Topkapi, em Istambul, em meio a um monte de entulho.

Por causa da riqueza de detalhes, muito se tem especulado a respeito desse mapa. Alguns até acham que ele, de   tão perfeito,   só poderia ter sido elaborado a partir de fotografias tiradas de uma altitude elevada.

O mapa de Piri Reis não foi feito como os mapas modernos, com grades verticais e horizontais para facilitar a localização. O método utilizado é mais antigo, aperfeiçoado por Dulcert Portolano, que utilizava uma série de círculos com linhas se irradiando a partir deles. Os mapas feitos com esse método são, por isso, denominados de mapas "portulanos". Seu objetivo era guiar os navegadores de porto a porto, ao contrário da concepção moderna que é a de localizar uma posição. Com isso, fica mais difícil comparar  as características do mapa de Piri Reis com os mapas modernos.

O mapa de Piri Reis também tem inúmeras anotações, inclusive sobre a descoberta do Novo Mundo feita por Colombo. A tradução dessas notas está mais adiante.

O trecho a seguir faz parte do livro "The Oldest Map of America", do Professor Dr. Afet Inan, Ankara, 1954

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Façamos uma pequena viagem no tempo. A primeira parada nesta viagem será a Turquia, há 30 anos atrás. O primeiro quarto de século mostra a Turquia, ao final da Guerra de Independência, e a República estabelecida por Kemal Ataturk (1923). A república turca, hoje, trinta anos mais velha, foi fundada com os restos de um outro estado turco, o Império Otomano (1299-1923). Na segunda parada, estamos no ano de 1929, mais precisamente no Palácio Topkapi, dos sultões otomanos, situado em um dos mais belos lugares de Istambul, chamado Sarayburnu. O palácio, que é composto de vários prédios, cada um rodeado por grandes jardins, testemunha as diferentes épocas de todo o período otomano. O governo republicano turco decidiu transformar este palácio em museu.

Descoberta do mapa da América

Na tarefa de classificar os inúmeros documentos existentes nos prédios, Mr. Halil Edhem, Diretor dos Museus Nacionais, descobriu um mapa (9.11.29) até então desconhecido no mundo da ciência. Ao saber da descoberta do mapa mais antigo da América, Ataturk mostrou grande interesse. Pediu que o mapa fosse trazido a Ancara, ordenou que ele fosse publicado do jeito que estava e que fosse submetido a pesquisas acadêmicas.

Estudar aquele mapa representava uma grande emoção. Ele havia sido confeccionado há centenas de anos atrás, em pele de animal, com várias ilustrações coloridas e com anotações em suas bordas. Assim que o tive em mãos, senti como se estivesse vivendo naquele longo passado esquecido. Minhas emoções estão agora 24 anos mais velhas, mas, com o mesmo orgulho nacional e espírito acadêmico, vamos dar uma espiada no período em que este mapa foi desenhado  e na história do homem que o confeccionou.

Este é um dos mapas mais velhos e mais perfeitos da América, feito por um almirante turco. Agora, se o leitor não se importar em ter centenas de anos, vamos até o século XVI. Nesta terceira parada, nossa jornada abrange um vasto terreno.

O poder marítimo do Império Turco-Otomano nos séculos XV e XVI

No século XV, principalmente após a conquista de Istambul, o estado otomano se transformou num império. Havia a necessidade de uma força naval que assegurasse o monopólio turco sobre o mar Negro e o Mediterrâneo. Para ter o domínio da margem superior do Mediterrâneo, as forças turcas lutaram contra os venezianos, os genoveses, seus tradicionais aliados, os Cavaleiros de São João, e os espanhóis. Finalmente, conseguiram a hegemonia territorial até Viena, a oeste, até o Cáucaso, Irã e Iraque, a leste, e sul, e assim acrescentaram às conquistas iniciais,  Síria, Egito, Tunísia, Argélia e Arábia, estabelecendo contatos estreitos com os vários mares. O mar Negro e o Mediterrâneo, incluindo o litoral do Adriático, caíram sob o domínio da bandeira turca. E a esquadra turca com o seu estandarte atravessou o mar Vermelho, o golfo Pérsico e o mar da Arábia até o Oceano Índico. O grande almirante Piri Reis, sobre cuja vida falaremos agora, foi um daqueles grandes almirantes como Burak Reis, Kemal Reis, Muslahiddin Reis, Barbaros Hayrettin, Turgut e Kilic Ah, que, ao final do século XV e durante o século XVI, obtiveram grandes vitórias para a armada turca instituindo, assim, o poder turco nos mares.

Concentremo-nos, agora, no primeiro mapa do mundo, feito por Piri Reis. Suas idéias a respeito de cartografia em geral estão registradas em verso. Ele diz que desenhar mapas exige  técnicas e conhecimentos profundos. Ele acredita que o menor erro torna o mapa inútil. Para que se tenha uma idéia de como ele era fiel aos princípios de precisão e exatidão, basta que se estude seus mapas. Ao antever o desenvolvimento das possibilidades marítimas do império otomano nas primeiras décadas do século XVI, Piri Reis percebeu a necessidade de um mapa do mundo, com informações práticas, que ajudasse aqueles marinheiros a cruzar os mares. Ao confeccionar este mapa, como um marinheiro devotado à sua profissão, ele se utilizou de todos os recursos até então disponíveis.

Na introdução ao seu "Bahriye", ele se refere ao mapa e diz que recorreu a todos os mapas conhecidos, inclusive os dos mares chineses e do oceano Índico, que eram desconhecidos no ocidente naquela época. Ele também registra que o mapa foi presenteado ao sultão Selim II. De uma nota escrita a mão pelo próprio autor, concluímos que o mapa foi feito entre março e abril de 1513 (919 da Hégira). Numa dessas notas, Piri cita suas fontes e uns vinte mapas que teriam sido utilizados por ele. Oito deles eram mapas novos do Mappa Mundi, quatro desenhados pelos portugueses, um indiano em árabe e um de Cristóvão Colombo sobre o hemisfério ocidental. O ponto mais importante a ser notado aqui é o fato de que Piri Reis, quando fez o seu, tinha em mãos  um mapa de Colombo. Ele faz referência a este fato em "Bahriye" (pag. 82), quando fala sobre a descoberta das Antilhas por Colombo. Isto pode ser explicado da seguinte forma: ele conseguiu o mapa quando se encontrava com Kemal Reis no litoral espanhol do Mediterrâneo. Numa clara referência às praias de Valença, ele diz que certa vez, naquelas costas, ele e Kemal Reis aprisionaram, em um único confronto, sete navios espanhóis (Bahriye, pág. 596). Em uma das notas feitas por Piri Reis, ele cita um espanhol que teria participado da terceira expedição de Colombo e que teria sido feito prisioneiro por Kemal Reis. Este espanhol teria feito um relato interessante sobre Colombo a Kemal Reis. É bem possível que ele tenha sido capturado durante a batalha na qual artigos indígenas foram apreendidos.

O mapa de Colombo em poder de Piri Reis foi feito em 1498 e, uma vez que sabemos que Kemal e Piri Reis tinham lutado contra os espanhóis em 1501, é muito provável que Piri Reis tenha conseguido o mapa durante a guerra.

Embora Piri Reis tenha desenhado um mapa do mundo inteiro, a parte que chegou até nós se refere às costas ocidentais da Europa e Africa, o oceano Atlântico, as Américas do Norte e Central. O mapa foi densenhado sobre  pele de animal em várias cores. Como outros mapas contemporâneos, ele não apresenta as linhas de longitude e latitude. No entanto, podemos ver duas circunferências,  uma ao norte e a outra ao sul. Cada uma delas é dividida em 32 partes     e as linhas de divisão são prolongadas para além de sua estrutura.

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Cada prolongamento é igual a uma milha marítima, conforme está mostrado nas medidas sobre as áreas próximas às rosas dos ventos. O mapa mede 90/65 centímetros. É colorido e  decorado com numerosas ilustrações. Nas áreas correspondentes às capitais de Portugal, Marrocos e Guiné encontramos quadros de seus respectivos reinos. Além disto, sobre a África há desenhos de um elefante e de um avestruz, e sobre a América do Sul de lhamas e pumas. Sobre os oceanos e ao longo das costas vemos ilustrações de navios. Tanto nas terras quanto nos mares há ilustraçóes correspondentes a entradas algumas vezes importantes. Todas essas anotações estão escritas em turco e podem ser encontradas em seu livro "Bahriye". Podemos acompanhar essas anotações a partir do canto nordeste, voltando para o sul e continuando ao longo do perímetro e finalmente seguindo em direção ao centro. Ler algumas dessas notas é realmente difícil, mas alguns peritos transcreveram essas anotações   conforme se segue:

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I - Há uma espécie de tinta vermelha, chamada de "vakami", que não é percebida à primeira vista, porque está a uma distância ... as montanhas têm ricos minérios ... Lá, algumas ovelhas têm penugem sedosa.

II - Este país é habitado e sua população não usa roupas.

III - Esta região é conhecida como o vilayet de Antilha. Está do lado onde o sol se põe. Diz-se que há quatro espécies de papagaios, branco, vermelho, verde e preto. As pessoas comem a carne de papagaio e seus enfeites de cabeça são feitos com as penas deles. Há uma pedra aqui. Lembra uma ... preta. Eles usam isto ao invés de machados. É muito difícil (ilegível)

(NOTA: Piri Reis escreve em seu "Bahriye": "Nos navios inimigos que capturamos no Mediterrâneo encontramos um enfeite de cabeça feito com aquelas penas de papagaio e também uma pedra como aquela.")

IV - Este mapa foi feito por Piri Ibn Haji Mehmed, conhecido como o sobrinho de Kemal Reis, em Gallipoli, no mês de muharrem, do ano de 919 (isto é, entre 9 de março e 7 de abril de l513)

V - Esta seção fala sobre como essas praias e ilhas foram descobertas. Esta região foi denominada como litoral das Antilhas. Elas foram descobertas no ano de 896 do calendário árabe, mas diz-se que um infiel, seu nome era Colombo, foi quem descobriu aqueles lugares. Por exemplo, um livro chegou ao conhecimento do dito Colombo, onde está registrado que no fim do mar Ocidental (Atlântico), isto é, em seu lado ocidental, havia litoral e ilhas e todas as espécies de metais e pedras preciosas. Colombo, tendo estudado este livro inteiramente, falou com os grandes de Gênova: "Dêem-me dois navios e deixem-me ir e encontrar esses lugares." Eles disseram: "Ó homem inútil, existe algum fim ou limite a ser descoberto no mar Ocidental? Seu nevoeiro é cheio de escuridão." Percebendo que não teria qualquer ajuda dos genoveses, Colombo rapidamente foi ter com o Rei de Espanha e lhe contou sua estória detalhadamente. A resposta foi a mesma dos genoveses. Em resumo, Colombo de há muito buscava ajuda, até que, finalmente, o rei de Espanha lhe deu dois navios bem equipados e lhe disse: "Ó Colombo, se acontecer como você nos diz, vamos torná-lo kapudan (almirante) deste país." E o dito Colombo foi enviado ao mar Ocidental. O último Gazi Kemal tinha um escravo espanhol. Este escravo disse a Kemal Reis que tinha estado três vezes naquelas terras com Colombo. "Primeiro alcançamos o Estreito de Gibraltar, de lá, na direção sul e oeste entre as duas (ilegível). Tendo avançado por 4 000 milhas, nós vimos uma ilha a nossa frente, mas gradualmente as ondas do mar  ficaram sem espuma, isto é, o mar se acalmou e a Estrela Norte - os marinheiros com suas bússolas ainda dizem estrela - pouco a pouco foi sumindo até ficar invisível e também disse que as estrelas naquela região não têm a mesma disposição daqui. Elas são vistas de uma forma diferente.

Ancoraram na ilha que eles tinham avistado primeiro durante o caminho, a população da ilha chegou, atirou setas e não permitiu que desembarcassem a fim de pedir informações. Homens e mulheres estavam nus e também muito (ilegível). Vendo que não poderiam desembarcar, eles rumaram para o outro lado da ilha e viram um bote. Assim que os viram, fugiram (as pessoas que estavam no bote) e correram para terra. Eles (os espanhóis) pegaram o bote. Viram dentro dele restos de carne humana. Ocorre que eram de uma nação cujos habitantes iam de ilha em ilha caçando homens para comê-los depois. Colombo avistou ainda uma outra ilha, aproximou-se dela e viu que havia grandes cobras. Ele evitou desembarcar naquela ilha e permaneceu por lá por 17 dias. Os nativos dessa ilha não viram qualquer perigo neles e se aproximaram trazendo-lhes peixes em seus pequenos botes (filika). Os espanhóis ficaram satisfeitos e lhes presentearam com contas de vidro. Parece que ele (Colombo) tinha lido no livro que naquela região as contas de vidro tinham muito valor. Ao verem as contas os nativos trouxeram mais peixes e os espanhóis retribuiram com mais contas. Certo dia eles viram ouro no braço de uma mulher, pegaram o ouro e deram a ela contas. Disseram que trouxessem mais ouro, nós lhe daremos mais contas (eles disseram). E eles trouxeram muito ouro. Parece que em suas montanhas havia minas de ouro. Um dia, também, viram pérolas nas mãos de um nativo. Perceberam que quanto mais contas eles lhes davam, mais pérolas eram trazidas.

As pérolas eram encontradas nas praias desta ilha, em um  lugar a uma ou duas braças de profundidade. Também carregando seu navio com muitas árvores  e levando com eles dois nativos, naquele ano retornaram ao Rei de Espanha. Mas, o dito Colombo não sabia a língua daqueles nativos, eles negociavam através de sinais e depois desta viagem o rei de Espanha enviou padres e cevada, ensinaram aos nativos como semear e colher e para convertê-los à sua religião. Eles não tinham qualquer religião. Andavam nus e se deitavam como animais. Agora aquela região tinha sido aberta para todos e se tornara famosa. Os nomes que marcam os lugares nessas ilhas e costas foram dados por Colombo, que esses lugares podem ser conhecidos por todos. E também Colombo era um grande astrônomo. O litoral e a ilha deste mapa foram tiradas do mapa de Colombo.

VI - Esta seção mostra de que maneira o mapa foi feito. Neste século não existe outro mapa como este. As mãos desse pobre homem o desenhou e agora ele está pronto. Tirei meus dados de cerca de vinte cartas e Mappae Mundi - há cartas que remontam aos dias de Alexandre, o Senhor dos Dois Chifres, que mostram a parte habitada do mundo, os árabes chamam essas cartas de Jaferiye - de oito Jaferiyes daquela espécie e um mapa árabe da Índia, e dos mapas feitos pelos portugueses, que mostram a Índia e a China geometricamente desenhados, e também de um mapa da região ocidental feito por Colombo. Reduzindo todos esses mapas a uma única escala, cheguei a esta forma final. Por isso, o presente mapa é tão correto e confiável para os Sete Mares quanto o mapa daqueles nossos países é considerado correto e confiável por nossos marinheiros.

VII - É relatado pelo português infiel que neste lugar a noite e o dia são mais curtos em duas horas. Mas o dia é muito quente e de noite há muito orvalho.

VIII - A caminho da Índia, um navio português encontrou um vento contrário (soprando) da praia. O vento da praia ... (ilegível) o navio. Depois de ser desviado por uma tempestade na direção sul, eles viram uma praia oposta a eles e avançaram em direção a ela (ilegível). Perceberam que estes lugares são bons para ancorar. Lançaram a âncora e foram para a praia em botes. Viram nativos andando, todos nus. Mas atiraram setas, as pontas eram de osso de peixe. Ficaram lá oito dias. Negociaram com aquelas pessoas através de sinais. Aquela barcaça viu aquelas terras e escreveu sobre elas, as quais ... A dita barcaça, sem ir para as Índias, voltou a Portugal, onde, depois da chegada, deu informações ... Eles descreveram aquelas praias detalhamente ... Elas tinham sido descobertas por eles.

IX - E neste país parece que há monstros de cabelos brancos  nessa forma e também bois de seis chifres. Os infiéis portugueses escreveram em seus mapas ... Este país é um desperdício. Tudo está em ruínas e diz-se que grandes cobras podem ser encontradas aqui. Por esta razão, os infiéis portugueses não desembarcaram naquelas praias e diz-se também que é muito quente.

XI - E estes quatro navios são portugueses. Seu modelo é descrito abaixo. Eles viajaram saíndo do lado ocidental até a Abissínia, a fim de alcançar as Índias. Eles disseram em direção a Chalice. A distância é de 4 200 milhas.

XII - ... sobre esta praia uma torre ... é contudo ... neste clima de ouro ... pegando uma corda ... diz-se que eles mediam ...

(NOTA: O fato de que metade de cada uma daquelas linhas esteja faltando é a prova mais clara de que o mapa foi feito em dois)

XIII - E um kuke (um tipo de navio) vindo de Flandres foi apanhado por uma tempestade. Impelido pela tempestade ele chegou àquelas ilhas e, desta forma, aquelas ilhas se tornaram conhecidas.

XIV - Diz-se que em tempos remotos, um padre de nome Sanvolrandan (Santo Brandan) viajou pelos Sete Mares, assim eles dizem. O referido padre sobre este peixe. Eles acharam a terra seca e acenderam um fogo sobre este peixe, quando as costas do peixe começaram a queimar ele mergulhou no mar, eles reembarcaram nos botes e fugiram para o navio. Este fato não é mencionado pelos portugueses infiéis. Foi tirado de um antigo Mappae Mundi.

XV - Estas pequenas ilhas receberam o nome de Undizi Vergine. Quer dizer Onze Virgens.

XVI - E esta ilha eles chamaram de Ilha das Antilhas. Há muitos monstros e papagaios e muitas árvores. Não é habitada.

XVII - Esta barcaça foi desviada para aquelas praias por uma tempestade e ficou onde encalhou. ... Seu nome era Nicola de Giuvan. Em seu mapa está escrito que os rios têm muito ouro (em seus leitos). Quando a água escoou, pegaram muito ouro (poeira) da areia.

XVIII - Esta é a barcaça de Portugal, que foi apanhada por uma tempestade e chegou a esta terra. Os detalhes estáo escritos na extremidade do mapa (NOTA: ver VIII)

XIX - Os portugueses infiéis não seguem para o lado ocidental. Todo aquele lado pertence inteiramente à Espanha. Eles fizeram um acordo que (uma linha) 2 000 milhas, a oeste do Estreito de Gibraltar devem ser tomadas como limite. Os portugueses não cruzam este lado mas a India e o sul pertencem a Portugal.

XX - E tendo esta caravela encontrado uma tempestade, foi desviada para esta ilha. Seu nome era Nicola Giuvan. E nesta ilha há muitos bois com um só chifre. Por esta razão, a ilha foi chamada de Isle de Vacca.

XXI - O almirante desta caravela se chama Messir Anton, o genovês, mas ele foi criado em Portugal. Um dia, a referida caravela se deparou com uma tempestade e se desviou para esta ilha. Ele encontrou muito gengibre aqui e escreveu sobre estas ilhas.

XXII - Este mar é chamado de Mar Ocidental, mas marinheiros francos o chamam de Mare d'Espagna. Até hoje é conhecido por este nome, mas Colombo, que inaugurou este mar e tornou estas ilhas conhecidas e também os portugueses infiéis que abriram o caminho para a Índia, concordaram em dar a este mar um novo nome. E deram o nome de Ovo Sano (oceano), que quer dizer "ovo são". Antes disto, dizia-se que o mar não tinha fim ou limite, e que seu outro fim era a escuridão. Agora eles viram que este mar é circundado por uma costa, porque é como um lago, eles deram o nome de Ovo Sano. Seus mapas, ou cartas, chamados de portulanos, l. C. Manual sobre Navegação, foram confeccionados no século XIII.

Há exemplos de tais trabalhos antes daquele período, mas os que poderiam ser comparados com os de Piri Reis são principalmente os dos séculos XIV a XVI.

O primeiro portulano europeu foi encontrado no trabalho de Adamus Biemensis, em 1076. A seguir, vem o mapa denominado "pisane", feito, presumivelmente, no século XIII. Os mapas que aparecem depois testemunham o nome do autor e a data de sua confecção. O mais antigo entre os portulanos é o de Pietro Vesconti, datado de 1320. A este, foi acrescentada uma seção do trabalho de Marino Snudus, sob o nome de "Liber Secretariun Fidehum Crucis". Portanto, considerando o desenvolvimento deste tipo de manual e cartas, será útil fazer uma pequena revisão comparativa com outros trabalhos contemporâneos, especialmente os mapas que mostram a América. Os portulanos e os manuais escritos depois do século XIV, mencionam a ilha do "Brasil" e em 1414 a ilha de "Cipango" e a Antilha são mostradas. Acredita-se que entre 1474 e 1482, Toscanelli enviou um portulano, juntamente com uma carta, a Cristóvão Colombo. Infelizmente estes documentos se perderam. Naquela carta, supõe-se que ele tenha dito que de acordo com o testemunho de muitos que tinham feito aquele caminho, se se mantivesse a direção oeste, eventualmente poder-se-ia alcançar a Ásia. De acordo com o que De la Ronciere escreveu, o mapa português foi desenhado entre 1488 e 1493. Uma fotografia do mapa será encontrada em outra página deste livro, juntamente com a parte que Kretchner redesenhou (pág. 39). A informação se espalhou por todo o mundo depois de 1507, quando Américo Vespúcio escreveu numa carta que se tratava de um novo continente, ao qual deu o nome de "Novus Mundus". St. Die, que publicou a carta, sugeriu o nome de "América". É verdade que, na primeira metade do século XVI, este novo continente chamou a atenção de geógrafos, o que resultou na confecção de vários mapas. Piri Reis foi um desses cartógrafos. Portanto, uma comparação de seus trabalhos com outros confeccionados entre 1507 e 1550, nos mostrarão a grandeza de seus mapas de e a sua importância como documento histórico na descoberta da América.

Conclusão

Como já foi dito, na época de Piri Reis, o Império Turco-Otomano era o poder dominante no Mar Negro e no Mar Vermelho e lutava pela hegemonia no Mar Egeu, no Mediterrâneo e oceano Índico. Para deter tal posição, era necessário que o Império tivesse uma esquadra equipada com todas as armas mais modernas. Os Arquivos do Estado nos fornecem alguns dos mais interessantes e ricos materiais concernentes a essas organizações. O que o autor deste livro queria mostrar, contudo, era somente alguns aspectos característicos de um marinheiro e intelectual turco, o escritor de um manual marítimo e o cartógrafo de dois mapas do mundo, um homem que tomou parte em inúmeros empreendimentos privados e governamentais em vários mares. Estudos cuidadosos dos mapas nos revelam o fato de que, quando comparados com outros mapas contemporâneos, eles provam ter sido elaborados dentro de um método e espírito científico avançado. Os dois mapas de Piri Reis se completam. Estamos em débito com guias tão valiosos no mundo da intelectualidade  por nos esclarecer sobre esta importante fase das descobertas geográficas. Em qualquer período da história eles devem ser tomados como fonte direta de informação. A bibliografia mostrará a riqueza da publicação desses trabalhos. O autor sempre teve imenso prazer em estudar este assunto em diversas ocasiões, e achou ser sua obrigação dividir algumas das informações com um grupo mais amplo de leitores. A vida e os trabalhos de Piri Reis  mostram não só as grandes qualidades heróicas e militares dos turcos nos séculos XV e XVI, mas também sua contribuição para a civilização. Piri Reis viveu numa época onde a cultura turca era fértil em todos os campos. O século XVI é universalmente visto como a Idade de Ouro da civilização turca na história. Piri Reis  foi um dos que deixou grandes obras não apenas para a sua nação mas para a ciência da geografia mundial e, por isso, se tornou uma figura importante para a história da civilização. Uma nação vive tanto mais quanto mais ela possa produzir obras culturais através dos tempos.

Fonte: sbmrj.org.br

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