Reversão de Omar

Uma delegação de chefes dos coraixitas foi ter com Abu Talib e o pressionaram no sentido de conversar com Mohamad (SAWS). Abu Talib, assim forçado, foi ter com o Profeta e falou-lhe a este respeito.

O Profeta respondeu-lhe: “Ó meu tio, sou muito grato pela sua simpatia e carinho; realmente, por estares sendo forçado a isso, podes retirar o teu apoio. Mas, eu não posso afastar-me de onde o meu Senhor me colocou”. Quando Abu Talib viu a firmeza de Mohamad (SAWS), disse aos coraixitas que ele não podia abandonar nem retirar o apoio de Mohamad, e disse também a ele, para continuar a fazer o trabalho dele.

Quase cem muçulmanos tinham emigrado para a Abissínia. Só tinham ficado em Macca uns quarenta para os quais o ambiente era insuportável. A maioria deles era formada por escravos, que Abu Bakr tinha comprado e libertado; mesmo assim estavam sem refúgio. Os outros (livres) muçulmanos podiam ser os únicos refúgios aparentes para eles, mas, estes também eram forçados a passar a vida em esconderijos.

O número total dos muçulmanos já tinha ultrapassado os cem (100) e entre eles contavam-se figuras valentes, como Tal-ha, Zubair, Saad Bin Abi Wacas e Ali. Estes, mais tarde demonstraram a sua valentia excepcional nas guerras e fizeram obras de grande significado. Mas, nessa altura, ainda não eram daqueles que os habitantes de Macca pudessem temer. Só duas pessoas tinham alcançado esse ponto. Omar Ibn Al-Khatab, e Ômar Bin Hachim que tinha a alcunha de Abdul Hakam, mais conhecido por Abu Jahal. Estes dois eram os piores inimigos do Islam, quando o Profeta proclamou a Profecia.
Omar Ibn Al-Khatab, era muito forte, inteligente, rápido na ação e muito orgulhoso; podia desafiar e bater em qualquer homem contemporâneo, e, além disso, era patriota pois, gostava muito dos seus familiares e da sua gente.

Estava-se no sexto ano de Proclamação da Profecia e Omar já tinha ultrapassado os trinta anos, quando ele viu as pessoas emigrarem para a Abissínia. A fúria dele não conhecia limites, e ele pensava que Mohamad (SAWS) era o maior causa da divisão entre sua gente.

A voz do Islam já tinha adentrado na casa dos familiares de Omar através de Said, o filho de Zaid. Ele foi o primeiro a converter-se e, como Said tinha casado com Fátima, irmã de Omar Ibn Al Khatab, esta, também se converteu ao Islamismo. Na mesma família, mais uma pessoa, Nauaim Bin Abdallah também se convertera, mas, Ômar ainda estava longe do Islam. Quando ele ouvia falar do Islamismo ficava furioso. Já se tinha tornado inimigo dos que se tinham convertido, perseguia, maltratava e torturava os que tinham abraçado o islamismo. Ele ou Abu Jahal, conforme uma narração, tinham matado uma senhora porque esta, não quis renunciar à sua fé ao Islam e torturavam outros até não conseguirem respirar. Mas, quem abraçava o Islam nunca deixava e, com todas estas torturas eles não conseguiam fazer renunciar nenhum convertido. Então, pensou que o melhor era pôr termo à vida de Mohamad (SAWS). Abu Jahal, quando soube da intenção de Omar, disse-lhe que se o fizesse, lhe daria cem camelos e uma boa quantia de ouro.

Omar saiu da sua casa, com a espada na mão. Nesse dia Mohamad (SAWS) passava o seu tempo numa casa perto do Monte Safa no Dar Al-Arquam, onde se reunia com Abu Bakr, Hamza, Ali e alguns outros.

Omar soube dessa reunião e tomou o rumo da referida casa. Por coincidência, no caminho, encontrou-se com Nuaim Bin Abdallah, que adivinhou, ou soube, o que Omar pretendia fazer. Ao pergunta-lhe aonde ia, ele respondeu que ia matar Mohamad. Nuaim disse-lhe: “Porque não vais primeiro ver a tua família, que também já se converteu (referindo-se a sua irmã e cunhado, Fátima e Said), e não endireitas a eles primeiro?”.

Ao ouvir isto, Omar tomou o caminho da casa do cunhado. Quando chegou lá, ouviu alguém recitar o Alcorão, mas eles, quando souberam da vinda de Omar, esconderam o recitador, Khabbab Bin Al-Irss e esconderam também as escritas do Alcorão. Mas como Omar já tinha ouvido a recitação do Alcorão, perguntou à irmã. “De quem era a voz que eu ouvi? Eles responderam que não era nada”. Mas ele logo lhes disse: “Eu já sei que vocês negaram a nossa religião e seguem Mohamad e a sua fé”. Agarrou Said, seu cunhado, e começou a bater-lhe; a irmã, então, levantou-se para socorrer seu marido. Omar bateu nela a ponto de começar a sangrar. Seu amor ao Islam, porém, era muito mais elevado do que isso. Marido e mulher, já aborrecidos com a atitude de Omar, disseram-lhe firmemente: “Sim, nós já entramos no Islam, faze o que quiseres, mas, o Islam nunca sairá do nosso coração”. Estas palavras tiveram um efeito extraordinário no coração de Omar; olhou a irmã com carinho e amor, quando viu o corpo dela a sangrar, ficou bastante agitado; o amor das relações uterinas superou a ira dele, acalmou-se, pois, e disse a sua irmã: “Eu também quero ver e escutar o que vocês estavam a ler”. Fátima disse-lhe: “se queres ver, primeiro toma banho, porque estás imundo, não podes tocar no Alcorão”. Como já tinha abrandado a sua ira, aceitou o que disse sua irmã, tomou banho e depois Fátima trouxe os fragmentos onde estavam escritos esses capítulos. Quando viu eram estes versículos:

“Tudo quanto existe nos céus e na terra, glorifica a Deus, O Poderoso, O Sábio. A Ele pertencem os reinos dos céus e da terra, dá a vida e dá a morte e tem poder sobre tudo. Ele é o primeiro e o último, O Visível, O Iminente, e tem conhecimento de tudo. Foi Ele quem criou os céus e a terra em seis dias e depois assumiu o trono, conhece o que penetra na terra e o que dela sai, o que desce do céu e o que até ele (céu) sobe. Ele está convosco onde estiverdes, pois vê tudo o que vós fazeis; pertence-Lhe o reino dos céus e da terra, e a Deus serão retornados todos os assuntos. Ele insere a noite no dia e o dia na noite e conhece bem as intimidades dos corações. Crede em Deus e no Seu Profeta e gastem (na esmola) daquilo que Ele vos fez herdeiros. Aqueles de vós quem crêem e fazem caridade, para eles haverá uma grande recompensa. E que desculpas tendes para não crerdes em Deus quando o Profeta vos exorta a crer no vosso Senhor?” (Cap. 57 , Vers. 1-8).

Ele leu varias vezes, e já estava envergonhado daquilo que tinha feito. Este é o efeito real do Alcorão, coisa que não existe em nenhum outro livro do mundo, por serem palavras autênticas de Deus. Não há ninguém que soubesse bem o árabe e ouvisse o Alcorão sem converter-se logo, ou então ficar convencido da superioridade do Alcorão acima de todos as outras composições. Quando Omar chegou a esta parte: Crede em Deus e no seu Profeta, logo disse:

“Ach hado An-Lá-Ilaha Ilal-Lah wa ach-hado Anna Mohamad Rassulullah”. Sou testemunha de que só há um Deus e Mohamad é seu Mensageiro.

E como os Versículos falavam de Deus e dos Seus atributos, o próprio Omar contava mais tarde que quando estava a ler e chegava ao nome de Deus o seu coração tremia, até que quando chegou ao sétimo Versículo, “crede em Deus e Mohamad é o seu Mensageiro”. Khabbab, o professor, que se encontrava escondido, quando ouviu Omar a proclamar a sua fé no Islam, com grande satisfação saiu do seu esconderijo e logo disse a Omar: “Boa Nova para ti”! O Profeta sempre orava: “Ò Deus! Fortifica o Islam através de uma destas pessoas” Omar Ibn Al-Khatab ou Omar Bin Hicham (conhecido por Abu Jahal) dos dois, aquele que tu ama mais. Quando Omar ouviu essa Boa Nova, logo tomou o rumo do local onde estava o Profeta no Dar-Al-Arqam perto de safa, para se apresentar perante o Profeta. Estavam com o Profeta, Tal´a, Hamza e outros. Eles viram Omar a chegar com a espada na mão e tiveram uma hesitação. Hamza disse: “Deixe-o vir, se vir com boa intenção, está bem, se não lhe vou cortar a cabeça com a sua própria espada”. Quando ele entrou, o Profeta levantou-se do seu lugar para receber e ao agarrar a sua túnica perguntou-lhe: “Ò Omar, com que intenção vem? Não desistirás da tua oposição? Estás à espera da ira de Deus?”. Omar logo respondeu: “Ò Profeta de Deus! Eu vim declarar a minha fé no Islam”. Mohamad (SAWS) e seus companheiros ficaram tão satisfeitos com a conversão de Omar que, logo, todos gritaram em voz alta: “Allaho Akbar, Allaho Akbar”, (Deus é Grande, Deus é Grande), tão alto que isso fez eco nos montes de Macca. Isto é, o poder de Deus e a bondade de seu Mensageiro, tornaram-se vitoriosos acima de todas as oposições e de todos os obstáculos. Imaginem com que intenção Omar saiu de casa e qual foi o fim. Realmente Deus é Poderoso, e os corações dos seres humanos estão na Sua Mão (Seu Poder). Ele gira o coração como ele quer.

Com a conversão de Omar, iniciou-se uma nova Era no Islamismo, criou-se outra dinâmica. Até então não era possível fazer orações em público, especialmente na Caaba. Pela primeira vez os muçulmanos oraram em publico na Caaba. Contudo os coraixitas não cessaram as suas perseguições, inclusive contra Omar. Ele foi também forçado a refugiar-se, mas o que lhe valeu foi o acordo de proteção que havia feito com a famosa e forte tribo Bani Sahm.

Segundo Abdallah, filho de Omar: “Uma vez Omar estava escondido dentro de casa, e fora estava uma grande multidão. O vale todo estava cheio de pessoas gritando, Omar apostatou-se e abandonou a religião tradicional”. Eu estava no telhado, assistindo a tudo isso e estava preocupado com o que iria acontecer. Repentinamente, apareceu um senhor idoso, entrou na casa e perguntou ao meu pai o que se passava. Omar respondeu: “Eles querem me matar, porque abracei o Islamismo”. Esse senhor, que era chefe da tribo Bani Sahm, chamado Aás Bin Wail Sahmi, disse: “Não ! Não pode ser isso! Eu dou-te refugio e proteção”, e saiu para fora e anunciou a sua decisão de dar proteção a Omar. Ao anunciar aquilo todos se dispersaram.

A conversão de Omar não era um acontecimento tão simples para os coraixitas que pudessem suportá-la com facilidade.

Por outro lado os muçulmanos ficaram mais encorajados e obtiveram a força que antes não tinham. Já faziam orações na Caaba em publico, já fazia o Tawaf. Abdallah Bin Mas´ud costumava dizer que “a conversão de Omar foi uma vitória para o Islam; a sua emigração (a Medina) foi um apoio e o seu Governo foi uma Misericórdia”.

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