Concepções Acerca do Sangue
Em Algumas Culturas
O sangue tem, em diferentes culturas, sido visualizado de maneiras diversas. Por exemplo, os egípcios de antigamente besuntavam suas cabeças com óleo e sangue como prevenção contra o encanecimento e a calvície.
Os romanos bebiam o sangue dos gladiadores moribundos para se imbuírem de coragem. Nos Ayyam al Jahiliyyah (os dias da ignorância, isto é, na era pré-islâmica), acreditava-se que alguém que sofresse de raiva (hidrofobia) poderia ser curado desse mal, se bebesse sangue do chefe da tribo. Algumas nações acreditavam mesmo que beber o sangue de um criminoso decapitado era um tratamento eficaz. Em tempos recentes, houve relatos de que certas tribos da Austrália Central faziam seus doentes idosos beber o sangue dos seus jovens.
Em contraste às crenças acima mencionadas, no tocante à natureza curadora do sangue, sabe-se que a tribo bantu, da África do Sul, acredita que o sangue retirado do corpo não mais poderá ser reconstituído, resultando, isso, no enfraquecimento, na impotência e na vida cega de muitos.
Em Certas Religiões
As tradições religiosas, como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, têm visualizado o sangue de diferentes maneiras, no conjunto. No caso do judaísmo, por exemplo, o sangue significa a renovação do pacto.
O Velho Testamento nos diz que a força do sague do sacrifício é de expiação (Lev. 16:6), purificação (Lev. 14:2), e consagração (Ex. 29:31). Em outras palavras, ele está relacionado com o estabelecimento do pacto. De modo que, nos sacrifícios de purificação do pecado e da culpa, o sangue do sacrifício irá ipso facto eximir o pecado, especialmente no grande Dia do Conserto (Lev. 16). Todavia, o consumo do sangue é proibido (Lev. 3:17).
Na teologia cristã, uma tramenda importância é dada ao sangue de Cristo (Hebrus 9:27). O sangue do sacrifício de Cristo tem o poder de propiciar o perdão e a santificação. Além do mais, esse sangue estabelece a paz com Deus, e é considerado o fundamento da renovada camaradagem com Ele. Deve ser ressaltado aqui que o Novo Testamento usa também a expressão "carne e sangue", para denotar a fraqueza e as transitoriedades do homem, ou seja, a sua servidão ao pecado e à morte.
A jurisprudência islâmica (al fiqh) categoriza qualquer forma de sangue que flui para fora do corpo como najis (impura). No caso, portanto, da perda de sangue resultante de um corte ou ferimento, o estado de ablução (al wudu) do cultuante torna-se anulado. Assim, também, os tipos de perda de sangue que uma mulher experimenta, devido à sua constituição fisiológia (de mulher), fazem com que ela fique num estado de impureza. O Sagrado Alcorão, por conseguinte, afirma categoricamente que o marido deverá abrir mão da sua relação sexual com sua esposa, do começo ao fim da menstruação dela, e até que ela se haja purificado por meio de realizar o banho cerimonial (al ghusl). Da mesma forma, estando no estado de menstruação, ela não precisará participar dos obrigatórios atos de cultuação.
De sorte que o Islam proíbe os seus seguidores de consumirem sangue. Entre as categorias haram (ilícitas) de comidas consumíveis, mencionadas no Sagrado Alcorão, está o sangue (dam masfuh - lit., sangue que flui fora):
"Dize (ó Mohammad): De tudo o que me tem sido revelado, nada acho proibido para quem necessita alimentar-se, nada, além de carniça, do sangue fluente ou da carne de suíno..."
Talvez seja apropriado mencionarmos aqui que durante o período da jahiliyyah (era pré-islâmica), uma pessoa faminta costumava bater com um pedaço pontiagudo de osso, ou com qualquer outro objeto pontudo, na carne do seu animal, para apanhar e beber do sangue fluente. Aquela era uma prática maldosa, uma vez que danificava o animal e, realmente, o enfraquecia.
O Dr. Yusuf al Qaradawi, ao mesmo tempo que explica as razões plausíveis para essa proibição, afirma que o beber sangue é predudicial à saúde e, além disso, é repugnante à decência humana. A primordial sabedoria dessa proibição talvez não esteja plenamente conscientizada; mas uma vez que o consumo de sangue seja ilícito (haram), o sangue é colocado na categoria das coisas impuras (najas).