Realidade da Transfusão de Sangue

Uma Breve História

A TRANSFUSÃO DE SANGUE é, com efeito, a injetação do sangue de uma pesoa (denominada doador) no sistema circulatório de outra pessoa (denomidada receptor).1 A transfusão de sangue não teria sido possível se não fosse pela descoberta de que há uma ininterrupta circulação de sangue dentro do corpo.

Portanto é imperativo que se dê um esclarecimento de como a transfusão de sangue veio finalmente a ser conseguida. Nos estágios iniciais do desenvolvimento da ciência médica, um probelma que encabulava os eruditos médico era como o sangue chegava ao e saia do ventrículo, e ia para o sistema arterial, tendo-se em mente que nenhuma ligação existe entre a "veia arterial" e a "artéria venosa". O Dr. Galen era da opinião de que isso era conseguido por causa da existência de poros invisíveis no septo. O Dr. Áli Ibn al Abbas al Majusi (948-982 d.C.) falou acerca da existência de um forâmen. Foi o Dr. Ala al Din Áli Ibn Abi al Hazm al Qurashi (1200-1288 d.C.), popularmente conhecido como Ibn al Nafis, que, na realidade, descobriu a circulação pulmonar.2 Nascido em Damasco, o Dr. Nafis praticou e ensinou medicina naquela cidade, bem como serviu por um longo período como diretor do Hospital Al Mansuri, no Cairo, e como Deão da Escola Médica daquela entidade.3 Na sua celebrada obra Kitab al Mujiz (Livro dos Milagres), que é um epítome da obra Kitab al Qanun (O Cânon), ele descreveu a circulação pulmonar da seguinte maneira:
Uma vez que o sangue foi refinado nesse ventrículo, ele deve atingir o ventrículo esquerdo, onde o pneuma (al ruh) é formado. Porém, entre os dois ventrículos não há passagem, uma vez que os dois órgãos não a permitem, porquanto a substância do coração aí é compacta (musmat). Nela não há nem uma passagem visível, como alguns supõem, nem uma invisível, que possam servir para transportar o sangue, como o Dr. Galeno pensava, porque os poros (masamm) do caração são colados um no outro, e sua substância é firme. De modo que esse sangue, uma vez refinado, certamente deverá chegar aos pulmões via veia arterial, para que se possa espalhar na substância deles e se impregnar de ar, a fim de que os seus mais ricos constituintes possam ser rarefeitos, para que possam alcançar a artéria venosa e, daí, o ventrículo esquerdo.
É importante mencionarmos aqui que foi somente em 1924 que o Ocidente reconheceu o Dr. Ibn al Nafis como aquele que realmente descobriu a circulação pulmonar. Antes disso, a descoberta era atribuída ao espanhol Miguel Servedas (1509-1553). Assim foi porque, lendo sobre a descoberta de Al Nafis por meio de uma tradução, provavelmente feita por Andrea Alpago, Servedas escreveu sobre aquela significativa descoberta, atribuindo-a a si próprio, no seu livro Christianismi Restitutio (Cristianismo Restituído). Esse livro resultou na sua ida para a fogueira, em Gênova, em 1553. Depois disso, os Drs Giovani de Valverde e Realdo Colombo, durante o século dezeseis, descreveram a circulação pulmonar como o tinha feito Servedas. Quanto à ligação ao caso do Dr. William Harvey, sabe-se que em 1628 ele teve sucesso em provar que o sangue circula num completo circuito.6 Todavia, foi somente em 1665 que o Dr. Lower, o anatomista britânico, conseguiu fazer uma transfusão de sangue, de um cão para outro. Então, dois anos mais tarde, o Dr. Jean Baptiste Denis, um médico francês, filósofo e astrônomo, conseguiu fazer a primeira transfusão de sangue de que se tem notícia, num ser humano. Ele injetou o sangue de um cordeiro num paciente seu de 15 anos de idade. O resultado foi desastroso, culminando com a morte do rapaz, e acusações de assassinato foram perpetradas contra ele. Depois disso seguiu-se um longo período de estagnação no campo da transfusão de sangue. Cerca de 150 anos mais tarde, em 1818, o Dr. James Blundell, do Hospital S. Tomás e do Hospital Guy, levaram a efeito, com sucesso, a primeira transfusão de sangue de humano para humano. Ele somente consegui isso depois que inventou um aparalho que transfundia diretamente o sangue, e preveniu que apenas sangue humano deveria ser tranfundido para os humanos. Porém, o uso generalizado do aparelho inventado pelo Dr. Lower só tronou-se possível em 1901. Isso aconteceu porque foi aí então que o Dr. Krl Landsteiner, um cientista vienense, descobriu que havia diferentes espécies de sangue. Assim sendo, caso espécies erradas de sangue se misturassem, a grumação (aglutinação) dos glóbulos vermelhos teriam lugar, levando à destruição deles.8 Nesta altura, portanto, pode ser apropriado discutirmos os diferentes grupos sangüíneos, os fatores que estão presentes em cada grupo, e quais grupos poderão ser misturados sem a grumação.


Grupos Sangüíneos

Há quatro principais grupos sangüîneos: A, B, AB, e O (ó). Esses grupos diferem quanto à presença ou à ausência das duas substâncias químicas (A e B) nos glóbulos vermelhos, e quanto à presença ou à ausência dos dois fatores (anti-A e anti-B) no soro.10 Deve-se notar que embora o soro e o plasma sejam semelhantes, a diferença entre eles é que no soro, o fator fibrinogênico e muitos dos outros fatores coagulantes estão ausentes. Assim, o soro, por si só, não se pode coagular por causa da falta desses fatores, os quais encontram-se, ao contrário, no plasma.11
Um indivíduo do grupo O (ó) é conhecido como doador universal, em vista do fato de que os seus glóbulos vermelhos não contêm a substância A nem a B. Contudo, tal indivíduo não poderá receber sangue de ninguém a não ser de um outro do grupo O, uma vez o soro deste contém ambos os fatores Anti-A e Anti-B. Por outro lado, uma pessoa com o grupo AB pode receber transfusão de sangue de qualquer doador, e será denominado receptor univeersal; mas poderá doar sangue somente a uma outra pessoa do grupo AB.12
A tabela 13 seguinte irá nos ajudar a determinarmos os grupos sangüîneos que são compatíveis e os que são incompatíveis:

Tipo sangüíneo do doador
Fator em glóbulos vermelhos
Fator em soro
A
A
Anti - B
B
B
Anti - A
AB
A, B
Nenhum
O
Nenhum
Anti - A, Anti - B

Tipo sangüíneo do doador
Tipos sangüíneos incompatíveis
Tipos sangüíneos compatíveis
A
O, B
A, AB
B
O, A
B, AB
AB
O, A, B
AB
O
Nenhum
A, B, AB, O


Além dos grupos A, B, O, um outro item de suma importância no trabalho de transfusão é o fator Rh. Esse fator ou essa substância é transportado/a nos glóbulos vermelhos do sangue. Cerca de 83 por cento da população tem o fator Rh no sangue, e diz-se que pessoas nessa condição possuem fator Rh positivo. Os restantes 17 por cento, que não não possuem o fator Rh no sangue, são ditas ter o fator Rh negativo. Assim sendo, se uma pessoa de sangue Rh negativo receber a tranfusão de sangue de Rh positivo, seu corpo começará a produzir anticorpos, coisa que, conseqüentemente, destruirá o sangue transfundido. A sensitização (ou seja, o processo de se produzirem anticorpos), que costumeriramente resulta, poderá causar uma séria reação.14 Talvez seja necessário aqui acrescentarmos que, antes de se aceitar o sangue de um doador em potencial, é preciso que se o analise para se detectar doenças como a hepatite, malária, sífilis e a síndrome da deficiência imunológica adquirida (AIDS), em vista do fato de que esses doenças poderão ser transmitidas pela transfusão.


Indicações para Transfusão

Há basicamente duas razões generalizadas que poderão necessitar de uma transfusão, e estas são: (a) perda de sangue e (b) falta de elementos vitais no sangue.
A. Perda de Sangue
A perda de sangue poderá resultar na redução do volume de sangue em circulação, e isso poderá ser precipitado pelos seguintes fatores:15
Hemorragias causadas por ferimentos, ou em casos de úlcera e distúrbio gastrointestinal, ou nos partos.
Ferimentos, queimaduras e escaldamento, em casos acidentais.
Cirurgia operatória, como no caso da cardiovascular, e em outras formas de cirurgia.
Incompatibilidade de sangue entre a mãe e o filho. Em tais casos, uma troca de transfusões tem de ser empreendida para salvar a vida da criança.
Anemia, aguda e crônica, bem como desordens coagulatórias, tal como hemofilia.

B. Falta de Elementos Vitais
O paciente poderá às vezes não requerer a transfusão por inteiro, mas precisará apenas de certos elementos vitais, como nos seguintes casos:16
Um paciente anêmico que esteja sofrendo de falta de glóbulos vermelhos poderá então requerer a transfusão apenas dos glóbulos vermelhos.
Um paciente com hemofilia, resultante de uma desordem congênita, estará arriscado a ter anemia ou uma perigosa perda de sangue, caso mantenha aberto qualquer ferimento, por menor que seja. Isso é por causa que o seu (dele ou dela) sangue tende a se coagular mui lentamente. Portanto, para estancar a sangria ou hemorragia ele ou ela iria requerer a transfusão do plasma sangüîneo. Alternativamente, o paciente deverá ser injetado com preparados de FAH (isto é, fator antihemofílico).
Deve ser notado aqui que, uma vez que o plasma é destituído de corpúsculos sangüîneos, um paciente que sofre de séria hemorragia necessita pelo menos de um quartilho (0, 568 ml) de sangue integral para cada quartilho de plasma transfundido.17

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