Tolerância religiosa

'Umar ibn al-Khattab (ra), em seu leito de morte, ditou um longo Testamento que consistia de instruções para o próximo Califa. Eis aqui a última sentença deste documento histórico: "Quero que você, em nome do povo a quem foi concedida proteção em nome de Allah e de Seu Profeta (isto é, os dhimmis, ou as minorias não muçulmanas que vivem no estado islâmico). Nosso pacto com eles deve ser cumprido, devemos lutar para progegê-los e ele não devem ser sobrecarregados além de suas possibilidades."

Naquele momento ele estava cheio de dor por causa dos ferimentos que  recebeu de um não muçulmano que o esfaqueou com um punhal envenenado quando ele conduzia a oração do Fajr (manhã).Também deve ser lembrado que ele era o chefe de um vasto império que ia do Egito até a Pérsia. Poder-se-ia ter esperado um ato de vingança ou uma rápida reação.'Umar, porém, não era um governante comum. (Os governantes iluminados de hoje enviam bombardeiros à menor  suspeita de conspiração). De um verdadeiro chefe de estado misericordioso poderíamos esperar uma tentativa de perdão ou esquecimento - o que já seria considerado nobre. Mas, uma ordem para proteger as minorias e cuidar delas?

O que é até mais notável é que para os historiadores muçulmanos toda a questão foi natural. Afinal de contas, foi o Califa quem estabeleceu as normas, escrevendo as garantias para a proteção da vida, da propriedade e da religião em decreto após decreto à medida em que os muçulmanos iam conquistando territórios durante seu califado. O modelo estabelecido aqui foi seguido por séculos em todo o mundo muçulmano.

É claro que Sayyidna 'Umar estava apenas seguindo o que tinha aprendido do Profeta Mohammad (saw). Que a proteção da vida, da propriedade e da liberdade religiosa das minorias é uma obrigação religiosa do estado islâmico. Que ele, pessoalmente, seria cobrado depois de sua morte por conta de um dhimmi que tivesse sido prejudicado por um muçulmano. Que não há compulsão na religião e que os muçulmanos devem ser igualmente justos com os amigos e os inimigos.

O resultado desses ensinamentos foi um governo muçulmano que criou um padrão de ouro para a tolerância religiosa em um mundo que não estava acostumado a esta idéia. De um modo incrível, a história muçulmana  não registra inquisições, perseguições, caça às bruxas e holocaustos que mancham a história de outras civilizações. Pelo contrário, os muçulmanos protegeram suas minorias das perseguições praticadas pelos outros. Protegeram os judeus dos cristãos e os cristãos do oriente dos católicos romanos. Na Espanha, sob os omíadas, e em Bagdá, sob os abássidas, cristãos e judeus gozavam de uma liberdade religiosa que não se permitiram entre eles ou em qualquer outro lugar.

Esta tolerância exemplar foi construída nos ensinamentos islâmicos. Toda a mensagem do Islam é que esta vida é um teste e que temos a opção de escolher o caminho do inferno ou o do céu. Mensageiros foram enviados para nos informar sobre as escolhas e nos advertir sobre as consequências. Eles não foram enviados para obrigar as pessoas a seguirem a senda reta. O trabalho dos muçulmanos é o mesmo. Eles devem transmitir a mensagem do Islam para a humanidade, porque eles a receberam. Eles não a modificam para torná-la mais atraente e nem obrigam as pessoas a aceitá-la. Além do mais, os resultados na outra vida dependerão da fé. Porque todos os atos bons não têm qualquer sentido se não houver uma fé adequada. E a fé é uma questão do coração. Simplesmente não pode ser imposta. Não é uma idéia que os seguidores de outras religiões tenham compartilhado com o Islam. O resultado é que a experiência muçulmana no campo da tolerância foi exatamente o oposto do resto do mundo. Como Marmaduke Pickthall bem observou: "Não foi senão após as nações ocidentais se separarem de sua lei religiosa que elas se tornaram mais tolerantes e não foi senão após os muçulmanos desertarem de sua lei religiosa que eles se tornaram menos tolerantes."

O caminho que o mundo ocidental tomou para promover a harmonia na sociedade foi banir a religião do cenário público. Para alcançar este objetivo, o ocidente pensa que ganhou ao censurar direitos nesta questão. Portanto, é bom lembrar que por certo que foram feitos muitos progressos no campo da tolerância no século que passou (e que deve ser elogiado) mas ainda resta um longo caminho antes que possa atingir os padrões estabelecidos pelo Islam.

Para os muçulmanos, a tolerância religiosa não é uma questão de postura política e sim uma obrigação religiosa muito séria. Eles devem ser uma força contra todo o tipo de intolerância, mesmo aquela que é promovida sob a capa da tolerância.

Fonte: sbmrj.org.br

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