Os Deveres da Irmandade
1- O Primeiro dever é o Material
O grau mais baixo: é colocar a teu irmão no mesmo nível que teu escravo ou servo, atendendo suas necessidades com o que te sobra. Dê a teu irmão espontaneamente sem obrigá-lo a pedir; obrigá-lo é a máxima carência de dever fraternal.
Segundo grau: situar a teu irmão em teu mesmo nível. Gostas de tê-lo como sócio de teus pertences, e o tratas como a ti mesmo ao ponto de lhe permitir compartilhar tudo na mesma medida.
Terceiro grau: o mais elevado de todos, no qual preferes antes a teu irmão do que a ti mesmo e antepões suas necessidades ás tuas. Este é o grau do Siddiq (fiel testemunho da verdade) e o mais alto para aqueles unidos no amor espiritual. O auto-sacrifício é um dos frutos deste grau.
2- O Segundo dever:
É dar ajuda pessoal para satisfazer as necessidades de teu irmão, atendendo-as sem esperar que te peçam, priorizando suas necessidades às tuas.
Aqui também há graus ou níveis como no caso do sustento material.
O grau mais baixo consiste em atender as necessidades do irmão quando ele pede e tens em abundância, ainda que o faças com bom humor e alegria, mostrando prazer e gratidão por poder ajudá-lo.
Alguém disse: “Se pedes a um irmão que te ajude diante de necessidade (seja trabalho ou outra) e não o faz, relembra-o, pois pode ter esquecido. Se depois disso, continua na mesma atitude, pronuncia Allah-Akbar!; para ele e recita este versículo: “quanto aos mortos, Deus os ressuscitará.” (Al-Qur'an, 6:36).
3- O terceiro dever:
Refere-se à língua, que às vezes deve estar silenciosa e às vezes falar.
Quanto ao silêncio, a língua não deverá mencionar os defeitos de um irmão nem na sua ausência nem na sua presença.
É melhor fingir ignorância. Não deves ocultar qualquer elogio sobre teu irmão. Se calas, é por inveja. Não critiques o irmão nem a sua família.
O Profeta Muhammad disse:
“Deus proibiu que o crente se meta com o sangue, a propriedade ou a honra de outro; ou de levantar suspeitas contra outro.”
“Cuida-te de levantar suspeita, pois ela é o meio mais mentiroso e leva a espiar e bisbilhotar.”
“Não espies nem bisbilhotes. Não rompas relações nem se separem, sirvam a Allah como irmãos.”
Ocultar suas falhas
Abu Sa’id al-Thauri costumava dizer:
“Se desejas tomar um homem como irmão, aborreça-o e depois procura pô-lo em contato com alguém que lhe pergunte sobre ti e teus segredos. Se fala bem de ti e oculta teus segredos, então faça-o teu irmão.”
Perguntaram a Abu Yazid al-Bistami:
“Quem tomarás como teu companheiro?”
“Alguém que saiba tanto de mim quanto Deus, e o oculte tão bem quanto Ele.”
Zhul Nun disse:
“Não há bem na companhia daquele que espera que sejas imaculado.”
Alguém que revela um segredo quando está aborrecido é mau-caráter, pois todas as naturezas normais exigem que este seja ocultado quando se está contente. Um homem sábio disse:
“Não tomes por companheiro a alguém que seja volúvel sob quatro condições: quando está aborrecido ou contente, quando está com desejos ou voracidade.”
Não tenham brigas ou disputas, pois estas são a essência da divergência e da ruptura. A disputa é somente para mostrar superioridade intelectual e fazer reluzir a ignorância do outro.
4- O Quarto dever
É o uso da língua para falar. Assim como a irmandade exige o silêncio para as coisas desagradáveis, requer a palavra para divulgar as favoráveis.
Esta é uma das particularidades mais marcantes da irmandade, pois aquele que se sente satisfeito com o puro silêncio mais lhe valeria ser irmão da gente das tumbas.
Tu desejas irmãos para te beneficiar por eles, e não para fugir de te ferirem, e o ponto sobre o silêncio se refere a isso, evitar lastimar ou ferir.
Deves usar a língua para expressar afeto pelo teu irmão, e para perguntar gentilmente sobre seu estado.
Por exemplo: se perguntas sobre algum acidente que lhe aconteça, deves mostrar a preocupação do teu coração por seu bem-estar e sua recuperação lenta. Assim, deves indicar com fatos e palavras que desaprovas todos os acontecimentos desagradáveis que lhe sucedem, e fazer-lhe saber que compartilhas sua alegria em todas as circunstâncias que lhe dão prazer. Pois, compartilhar tristezas e alegrias é irmandade.
O Profeta Muhammad disse:
“Se um de vocês ama a seu irmão, faça-o saber.”
Ele deu esta ordem porque a comunicação traz consigo um incremento de amor. Se sabes que ele também te ama, isso aumentará teu amor por ele. Assim o amor crescerá e se multiplicará por ambas as partes.
- A Sinceridade significa ser igual na sua presença como na sua ausência.
- Usar a língua inclui a instrução e o aconselhamento.
5- O Quinto dever:
É o perdão dos erros e das falhas. A falha de um amigo é de um dos dois tipos: na sua religião, através de cometer uma ofensa, ou no seu dever para contigo, através de uma omissão nas obrigações da irmandade.
6- O Sexto dever:
É orar pelo teu irmão. Deves rezar por ele como rezas por ti mesmo.
O Profeta Muhammad disse:
“A oração de um homem em nome do seu irmão sempre é respondida, enquanto que o que pedes para ti pode ser negado.”
7- O Sétimo dever:
É Lealdade e sinceridade. Lealdade é firmeza no amor e sua continuidade até a morte com o irmão, e depois da morte, com seus filhos e seus companheiros.
Pois o amor é em benefício da outra vida. Se este é cortado antes da morte, o trabalho é em vão, e o esforço inútil, inclui considerar a todos os seus companheiros, parentes e dependentes.
A irmandade é uma essência sutil. Se não a cuidas, está exposta a desgraças.
Assim, a guarde através do autocontrole, inclusive ao ponto de perdoar alguém que tenha cometido uma injustiça contigo, e com alegria para que não sobreestimes tuas próprias virtudes ou os erros do teu irmão.
Um dos sinais da veracidade, sinceridade e lealdade absoluta na irmandade, é ser extremamente desconfiado das separações e instintivamente cauteloso pelas suas causas. Como foi dito:
“Concluí que os golpes do destino são assuntos triviais, comparados com a separação dos amigos.”
A lealdade inclui não ser amigo do inimigo do teu amigo.
8- O Oitavo dever:
É o alívio de incomodidades e inconveniências. Não deves incomodá-lo, forçando-lhe a ser educado, a se por em tua situação e atendendo a teus direitos.
Não, o único objeto do teu amor deve ser Deus (Exaltado seja), atendendo a seus direitos e suportando ou mantendo suas necessidades.
Aquele que exige a seus irmãos o que eles não se exigem, lhes faz dano. Aquele que lhes exige o mesmo que eles exigem, os cansa.
Aquele que nada lhe exige, é seu benfeitor.
Um deles disse: “Com os filhos deste mundo, comporta-te educadamente; sabiamente, com os do outro. Como queiras, com aqueles que sabem”.
Um homem disse a Al-Djunayd:
“Os irmãos estão escassos nestes dias. Onde encontrarei um irmão em Deus?”
Al-Djunayd o obrigou a repetir o mesmo três vezes antes de responder-lhe:
“Se o que buscas é um irmão que veja por ti e carregue teu peso, esses na minha vida, são poucos e muito espaçados. Mas se queres um irmão-em-Deus, cuja peso carregarás e cuja dor suportarás, então tenho uma tropa que posso te apresentar.” O homem calou-se.
O alívio e a comodidade incluem a não objeção às devoções super-rogatórias. Um grupo se unia em irmandade somente com uma condição: igualdade em quatro aspectos.
Se um deles comia todo o dia, seu companheiro jamais lhe diria: jejua!; se jejuava continuamente, jamais lhe diria: come! Se dormia toda a noite, não lhe diria: levanta-te ! e se rezava durante toda a noite, não lhe diria: dorme! Em vez disto, faria o mesmo sem agregar ou tirar.
O alívio e a ausência de exageros só se produzem em um ambiente propício, e é quando tu te sentes inferior a teus irmãos e pensas favoravelmente deles e te consideras pouca coisa junto deles. Quando tenhas esta atitude, em realidade serás mais valioso que eles.
O Profeta Muhammad disse:
“O crente não pode fazer algo pior do que menosprezar a seu irmão.”
O bem estar e a liberação de tensão tem um ápice que exclui o consultar com teus irmãos todos os teus planos e aceitar suas sugestões.