Breve relato da Batalha de Badr

Ano 2 da Hegira (624 D.C.)

O Profeta Mohamad (saws) tinha dado duras ordens aos muçulmanos para que eles não fossem os primeiros a atacar e foi assim que ele procedeu em todas as guerras. Os coraixitas estavam impacientes, mas neles havia alguns pacíficos que queriam evitar a guerra, mesmo no último momento, como por exemplo Hakim Bin Hizam e Utbah.

Mas Abu Jahal não aceitou e convidou o Amir Hadrami, irmão de Hadrami,que foi morto por uma seta dos muçulmanos, dois meses antes, na expedição de “Nakhla”, para se vingar da morte do irmão. Amir levantou-se rasgou a sua roupa, conforme a tradição árabe, “jahilia” (ignorância), e começou a gritar “Wa Omarah” invocando a vingança da morte do seu irmão. O Profeta (saws) já tinha feito as fileiras onde os crentes estavam bem alinhados.

Antes da guerra começar fortemente saiu das fileiras dos descrentes Asswad Bin Abdul Makhzumi e avançou para quebrar e destruir a linha do abastecimento de água dos muçulmanos. Então, Hamza apareceu e aniquilou-o, sem ele ter feito qualquer estrago. Depois começou a guerra por desafio (um contra o outro, individualmente). Saíram três homens das fileiras dos descrentes, chamados Utbah, Chaiba (dois filhos de Rabia) e Walid, filho de Utbah, desafiando os muçulmanos para um combate individual. Da parte dos muçulmanos saíram três jovens de Madina, mas os descrentes de Macca não aceitaram porque esses eram naturais de Madina. E gritaram: “ Ò Mohamad, envia para combater contra nós homens iguais a nós (de entre a nossa gente), muçulmanos naturais de Macca (emigrantes). O Profeta (saws) ordenou ao seu tio, Hamza, que lutasse contra os Chaiba, Ali contra Walid e Ubaidah Ibn Al-Haris contra Utban. Hamza e Ali mataram os seus adversários num instante e logo a seguir Ali matou Utban que tinha ferido gravemente Ubaidah Bin Haris. Ali, satisfeito com o seu sucesso, carregou Ubaidah, que estava ferido, e pô-lo deitado perante ao Profeta. O Profeta Mohamad (saws) deu-lhe a Boa Nova do Martírio. Os coraixitas, quando viram que os três homens tinham sido mortos logo de inicio, avançaram em força, generalizando a batalha. A batalha foi numa manhã de sexta-feira, dia 17 de Ramadan. É o dia semelhante ao que começou a Revelação do Alcorão.

Apesar do Profeta Mohamad (saws) já ter recebido garantias da parte de Deus, da vitória juntamente com o apoio dos anjos, mesmo assim o Profeta (saws) não deixou de seguir as regras gerais da guerra:
Formaram-se fileiras, criou-se disciplina etc.; e assim estavam as duas troças, frente a frente, como diz o Alcorão.

“Na verdade há um sinal (grande) para vós, nos dois grupos que se enfrentaram; um grupo combatendo no caminho de Deus e outro sendo descrentes... e Deus fortifica com a Sua ajuda a quem quer. Nisso há uma grande lição para os que têm vista” (Cap.3 Vers.13).

Estavam os dois exércitos frente a frente. Mas, que comparação entre um e outro? Já viu ou ouviu alguém falar de alguma guerra igual? De um lado, 300 homens a pé, mal armados, contra mil homens montados e bem armados. Mas o moral dos muçulmanos estava muitíssimo elevado, e a força moral é sempre superior, sabendo que estão a lutar por uma causa justa, ao poder material; esta força moral foi fortificada com a fé em Deus, pois eles sabiam que tinham a seu lado um General inspirado (Profeta Mohamad). Portanto, só o poder material, sem fé, não pode combater a fé e o elevado moral.

Quando a guerra se generalizou, os descrentes lutavam confiando no seu poder militar, enquanto que do outro lado, estava o Profeta Mohamad (saws) prostrado, na terra, procurando só o apoio de Deus. Era o mesmo Mohamad (saws) que, na ocasião de Miraj (Ascensão), tinha chegado ao ponto mais elevado dos céus e agora estava com a sua face na terra clamando humildemente a ajuda de Deus. Podem, porventura igualar-se estes dois grupos? Não nunca! O moral dos muçulmanos era tão elevado que eles realizaram prodígios de valor que enche, mesmo hoje, de espanto qualquer audiência.

E, como todos ainda recordavam as maldades e os massacres de Abu Jahal (o pai da ignorância) o maior inimigo de Deus perpetrados contra os muçulmanos, e em particular contra o próprio Profeta (saws), alguns elementos na tropa islâmica particularmente nos ansar queriam atacá-lo, tendo feito mesmo um juramento nesse sentido, apesar de nem o conhecerem.

Abdurrahman Bin Auf conta: “Eu estava na fileira; de repente, vi dois jovens de entre os ansar (irmãos) ao meu lado direito e esquerdo, tendo um desses me perguntado: “ Onde está Abdu Jahal? Ainda não lhes tinha respondido quando surge outro a fazer-me a mesma pergunta. Eu indiquei-lhes uma direção. Ato contínuo, eles atiraram-se a ele como águias. Abdu Jahal, que estava todo vestido com armaduras de ferro, e tinha somente descobertas as canelas dos pés, viu-se no chão. Muádh com um golpe de espada cortou-lhe a perna obrigando-o a cair.

Entretanto apareceu Ikramah, o filho de Abdu Jahal por detrás, e bateu a Muádh ficou semi-cortado, balançando. Mesmo naquele estado, Muádh continuou a lutar; vendo que o braço pendurado lhe dificultava a sua luta, meteu-o debaixo do pé e puxou com força para separá-lo do seu corpo, ficando assim mais livre para continuar a luta”. Pode alguém apresentar exemplo igual?

Os muçulmanos, moralizados, gritando Alláho-Akbar, Alláho-Akbar, (Allah é o maior) atacaram os inimigos por todos os lados. A movimentação deles e das suas espadas era tão rápida que parecia obra de uma força sobrenatural a guiá-los. Num dos momentos finais, o Profeta Mohamad (saws) levou uma mão cheia de areia e recitou alguns versículos do Alcorão, atirando-a em seguida na direção dos coraixitas, ordenando aos seus companheiros que continuassem firmes. Quando a maior parte dos lideres descrentes estava já mortos, o seu exercito foi forçado a recuar em debandada deixando para trás os seus mortos e feridos, e os muçulmanos perseguiram-nos para os prenderem.

Os prisioneiros da guerra de Badr e o seu tratamento.

Os muçulmanos entraram em Medina um dia antes dos prisioneiros. No dia seguinte, quando os prisioneiros chegaram, Saúda Bint Zam´a, esposa do Profeta Mohamad (saws), quando viu Abu Yazid Ibn Amr, um dos prisioneiros e parente dela, com as suas mãos amarradas atrás do pescoço, descontrolou-se e dirigiu-lhe estas palavras: “Ó Abu Yazid! Tu Também cedeste e entregaste-te voluntariamente? A morte era mais honorável que isso, lutavas até a morte”.

O Profeta (saws), ao ouvir aquilo, chamou-a e disse: “Estás a incitar os homens contra Deus e contra o Seu Mensageiro”? Ela respondeu: “Ò Mensageiro de Deus, por Deus, que te enviou com a verdade; eu não pude controlar-me quando o vi naquele estado!” Isto demonstra a liberdade de expressão que todos gozavam naquela época.

O Profeta Mohamad (saws) distribuiu os prisioneiros entre os muçulmanos com instruções de que eles deveriam ser tratados nobremente.

O Profeta (saws) ordenou aos muçulmanos: “Tratai-os bem até que os descrentes de Macca os resgatarem ou até que Deus envie outras ordens a respeito deles”.

Os prisioneiros foram bem tratados pelos muçulmanos que lhes davam toda a sua comida e preferiam comer só tâmaras.

Atitude dos muçulmanos em relação aos prisioneiros.

O Profeta Mohamad (saws) consultou os muçulmanos a respeito dos prisioneiros, uma vez que ainda não tinha instruções da parte de Deus sobre o assunto, fazendo com que os crentes partilhassem na decisão livremente. Os dois homens mais próximos ao Profeta (saws), considerados Ministros do Profeta, Abu Bakr e Omar, tinham opiniões diferentes; Abu Bakr disse ao Profeta (saws): “Todos esses cativos são nossos parentes e familiares, o melhor é recebermos o resgate e libertá-los. Talvez venham mais tarde a entrar no Islam. Omar, na questão de Islam (quando o Islam está em causa) não distinguia amigo, inimigo, parente e não parente, e como tinha um temperamento austero aproximou-se do Profeta (saws), e disse: “Ó Profeta de Deus! Estes são os inimigos de Deus, eles Te desmentiram, lutaram contra Ti e expulsaram-Te de Macca, portanto, a minha opinião é de serem todos mortos, porque estes, são os chefes dos idólatras. Ao eliminá-los Deus consolidará o Islam e rebaixará os idólatras”. O Profeta Mohamad (saws) ouviu as duas opiniões, depois ponderou mais no assunto em sua casa. Quando saiu, viu que os muçulmanos estavam divididos entre a opinião de Abu Bakr e Omar. O Profeta comparou os dois (Abu Bakr e Omar) com os Profetas antecessores e disse: “Abu Bakr comparado com os Profetas é como o Abraão, na ternura, que apesar de ser rejeitado pelo seu povo e de terem atirado ao fogo ele apenas disse: “Porém quem me seguir será dos meus e quem me desobedecer... certamente Tu és Indulgente, Misericordioso” (Cap.14, Vers.36).

Acrescentou que Abdu Bakr na ternura é como Jesus que disse: “Se Tu (ó Deus) lhes castigas as faltas, é porque são Teus servos e se lhes perdoas os pecados, é porque és Poderoso e Prudente” (Cap.5, Vers.118).

A Omar comparou-o na dureza com Noé que disse: “Senhor não deixeis sobre a terra sequer um dos descrentes” (Cap.71, Vers.26).

Ou como Moisés que disse: “Senhor nosso, destrói-lhes as riquezas e endurece-lhes os corações para que não creiam até experimentarem o doloroso castigo” (Cap.10, Vers.8).


E o Profeta (saws) depois de elogiar os seus dois companheiros, (porque com essa atitude o objetivo e o espírito dos dois era o mesmo, fortificar e reforçar a religião e rebaixar os idólatras, só a via era diferente) preferiu a idéia de Abu Bakr, de receber o resgate e libertá-los.

Um dos prisioneiros, poeta, disse ao Profeta (saws): “Ó Mohamad, eu tenho cinco filhas a quem tenho que sustentar, devolvê-me (a elas), como caridade a tua parte e eu prometo-te que nunca te criticarei nem combaterei contra ti”. O Profeta (saws) libertou-o. Mas ele não cumpriu a sua palavra e combateu outra vez contra o Profeta Mohamad (saws) na batalha de Ohud, onde foi novamente capturado.

Os muçulmanos chegaram a um consenso, aceitaram o resgate e libertaram os cativos, e assim, cada um teve que pagar 4.000 dirham. De entre esses, aos que sabiam ler e escrever, mas não tinham dinheiro para se resgatarem, foi-lhes dito que um deles educassem dez crianças de Madina e só depois seriam libertados. Zaid Bin Sábit, o conhecido escrivão, aprendeu a escrever dessa forma.

Esse foi o nobre tratamento e de caridade que esses inimigos de Deus e criminosos, sem dúvidas, receberam após terem perseguido, durante treze anos consecutivos. Agora, estavam sob o controle do Profeta Mohamad (saws), derrotados, humildemente e sob o poder do Profeta (saws). Pode-se comparar isso com o que acontece hoje na era da alta civilização? Pode-se comparar isso com o que os governantes contemporâneos fazem quando se apoderam dos seus inimigos ou rivais? Os massacres que ocorrem na primeira e segunda guerra mundial, bombardeamentos atômicos que vitimaram milhares de inocentes, e as matanças que ocorreram durante as revoluções entre as nações cristãs da Europa, em nome do cristianismo, tal como os que ocorreu no dia de são Bartolomeu na França. Esta foi uma matança planejada deliberadamente durante a noite, em que os católicos acordaram na manhã seguinte para matarem os protestantes da França. E o caso de Carlos Magno considerado um herói cristão, que mandou executar 4.500 saxões nas margens do Allier. E os recentes massacres de Sabra e Chatilla, campos de refugiados palestinos no Líbano, em que foram mortos milhares de mulheres e crianças? Na história islâmica, não há caso nenhum destes.
Depois dos muçulmanos receberem o resgate, Deus mandou dizer para esses cativos de Badr: “ Ó Profeta, dize aos cativos que estão em vosso poder, se Deus souber de algum bem em vossos corações, conceder-vos-á algo melhor do que aquilo que vos tiraram e perdoar-vos-á, porque Deus é Clemente e Misericordioso” (Cap.8, Vers.70).

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