Todo mundo vem assistindo pela TV o verdadeiro inferno que se tornou a vida no Oriente Médio depois que os Estados Unidos resolveram responder aos ataques terroristas do dia 11 de setembro que fizeram 6 mil vítimas no país. Tendo como principais suspeitos os extremistas islâmicos ligados ao terrorista Bin Laden – que por sua vez, seria protegido do Taleban, grupo que governa o Afeganistão – os Estados Unidos vêm bombardeando a região de Cabul (capital do Afeganistão) e seus arredores.
A guerra começou e ninguém está feliz com ela. Agora, você consegue imaginar o desgosto – infinitamente maior – de meninas adolescentes que têm origem árabe? Em entrevista ao iGirl, duas garotas mulçumanas que vivem no Brasil contaram como estão sofrendo as conseqüências da guerra e qual a opinião delas sobre o conflito.
Por Ana Cândida e Marina Fuentes
A Universitária
Meus amigos me perguntam bastante sobre minha religião. Sou muçulmana e eles nunca me discriminaram por isso. Eles querem saber se a religião apóia ou não os atentados terroristas que podem ter sido provocados por extremistas muçulmanos. Eu explico que o islamismo é contra qualquer ato de violência. No entanto, a autodefesa é permitida e é nela que esses terroristas se apóiam como desculpa para seus atos. Na minha opinião, quem atacou primeiro nessa guerra entre os EUA e o Afeganistão errou. E quem revidou errou também. Não há luta pela paz dessa maneira. Sou contra toda e qualquer retaliação ou guerra. Toda religião deve ser seguida na íntegra, mas, é claro, existe o livre arbítrio. Nós sempre temos o poder da escolha. Quanto mais se segue a religião, mais próximo se está de Deus. Eu não uso véu, mas todas as mulheres da minha família usam. Ainda não me sinto preparada para andar com a cabeça coberta. Quando eu usar – porque sei que vou usá-lo um dia – não vou tirar nunca mais. Uma vez que se põe o véu é para a vida toda. Ele existe para não atrair o sexo oposto. A mulher deve se arrumar apenas para o marido e sua beleza está no seu cabelo, que representa a sua feminilidade. O véu previne a mulher do olhar de cobiça dos outros e, assim, ela se preserva. Minha rotina religiosa consiste em rezar cinco vezes por dia e, às vezes, ir à Mesquita, nas sextas-feiras, quando há uma oração.Quando se trata de casamento, o islamismo aconselha que toda mulher muçulmana se case com um homem da mesma religião e eu pretendo seguir esse mandamento. Esse homem pode ser um convertido ou até mesmo um recém-convertido. O importante é que ele também seja mulçumano. Apesar de todas essas exigências, não considero minha religião machista e quem diz isso dela é porque não a conhece bem e ignora seus princípios. Marian Hassan Hammadeh tem 21 anos, estuda nutrição e mora em São Bernardo do Campo - SP
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A Ginasial
Sou mulçumana assim como toda a minha família. Estudo na escola Barão de Mauá, em São Bernardo, e estava na sala de aula quando os aviões seqüestrados pelos terroristas bateram nas torres do World Trade Center, em Nova York. Na escola, só eu e mais um garoto somos da religião islâmica. É claro que fizeram brincadeiras comigo porque eu acredito na mesma religião que os principais suspeitos do atentado, mas não passou disso. Meus amigos sempre me respeitaram e aceitaram e, quando ocorreram os ataques, os professores orientaram a minha turma sobre o assunto. Disseram que não dá para comparar a religião mulçumana com um grupo de terroristas, que não é a mesma coisa, e eu acho que todo mundo entendeu bem isso. Acima de tudo, acho que ninguém ganha com a guerra. Eu sinceramente não sei o que os norte-americanos devem fazer para achar os culpados pelo ataque, mas, com certeza, não é atacando a população do Afeganistão que as coisas vão se resolver. A maioria dos meus amigos é católica e eles acham que a religião muçulmana é muito machista. Eu não acho. A mulher muçulmana respeita o próprio corpo. Este ano, eu comecei a usar lenço na cabeça – antes eu não usava porque não estava preparada, achava que os outros iriam mexer comigo. Agora eu uso e acho importante. É a minha religião. Minha mãe nasceu aqui, meu avô e minha avó são libaneses e meu pai também é libanês. Morei no Líbano numa cidade pequenininha chamada Lucy quando eu era pequena, até os 6 anos de idade, e depois voltei para lá com 11 anos e fiz a quinta série. Gostei muito do lugar e gostaria de voltar para lá algum dia. Alaê Saifi tem 14 anos, cursa a oitava série e mora em São Bernardo do Campo - SP.
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