Brasileira Muçulmana diz que Ocidente Manipula a Opinião Pública Contra o Islam

RIO - Ela acredita que os atentados ao World Trade Center e ao Pentágono, em setembro, atribuídos a fanáticos religiosos muçulmanos, são uma questão mais de discurso do que propriamente uma guerra santa.

 

Para a professora carioca Mônica Botafogo, muçulmana há quatro anos, o problema ainda mais grave é que o império norte-americano, maior ícone do capitalismo, está em crise.

"A sociedade norte-americana é tão doente que produz um garoto de 14 anos capaz de fazer uma chacina. O Islã é uma alternativa ao mundo capitalista. O capitalismo não dá identidade às pessoas", acredita.

Para Mônica, o Ocidente faz uma manipulação mal-intencionada do Islã. Um exemplo é a história divulgada pela imprensa norte-americana de que os terroristas acreditavam que entrariam no paraíso com direito a milhares de virgens ao cometerem o atentado.

"No 'Alcorão' (livro sagrado do Islamismo), não há nada que justifique a interpretação. O suicídio é condenado e ninguém pode antecipar o dia de sua morte. Trabalhar com o imaginário popular, como no caso das 11 mil virgens, faz parte do jogo. Não tenho dúvida de que é uma manipulação de interpretação. Você pode reforçar alguns trechos do Alcorão. Mas isso é desqualificar o Islã", disse.

As críticas se estendem à política. "Falar que Saddam Hussein representa o muçulmano simplesmente não existe. Os norte-americanos o encheram de armas. Você acredita que Osama bin Laden tem esse poder todo?" A indignação de Mônica é tanta que ela chega a arriscar dizer a autoria dos atentados aos EUA.

"Eu tenho quase como certo que foi um golpe de extrema direita nos Estados Unidos. Pensar que vieram alguns caras de fora e fizeram essa barbaridade toda é não levar em conta a realidade norte-americana. Há mais de cem organizações de extrema direita funcionando dentro dos Estados Unidos. Os movimentos antiglobalização estão partindo do Ocidente", afirma.

Ela conta que o Taleban é um grupo de estudantes que surgiu primeiramente no Paquistão. Segundo a professora, eles fazem uma leitura bastante conservadora do "Alcorão", mas não são representativos da religião, nem ameaçam macular a imagem do Islã. "Eles não chegam a 100 milhões em um universo de 1,3 bilhão de muçulmanos".

A professora se apaixonou pelo islamismo desde que conheceu a Sociedade Beneficente Muçulmana, no centro do Rio, quando fazia uma pesquisa acadêmica. Ela garante que, em vez de uma repercussão negativa, o interesse dos brasileiros leigos pela religião desde os atentados tem aumentado. No Rio, não há mesquitas para culto e todas as atividades da comunidade, sejam elas burocráticas ou religiosas, acontecem dentro dos 60 metros quadrados do escritório da Sociedade Beneficente Muçulmana. "Vejo mais gente querendo conhecer sobre o Islã".

Sem uso do chador (véu utilizado pelas muçulmanas em países como o Irã e o Afeganistão), mas cumprindo com fidelidade tradições como o jejum no mês do Ramadã e com uma preocupação com a inter-relação dos fatores históricos, que fazem parte de sua formação profissional, Mônica conta que não se arrepende da religião que abraçou. "Amo o 'Alcorão', tudo nele é perfeito", diz.

Por Clarice Spitz

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