Fatimah Bint Muhammad

Fátima foi o quinto filho de Mohammad e Khadija. Ela nasceu na época em que seu pai começou a passar longos períodos em solidão nas montanhas perto de Macca, meditando e refletindo sobre os grandes mistérios da criação.

Sua irmã mais velha tinha se casado com seu primo, al-Aas ibn ar-Rabiah. Em seguida veio o casamento de suas duas outras irmãs, Ruqayah e Umm Kulthun, com os filhos de Abu Lahab, um tio paterno do Profeta. Tanto Abu Lahab quanto sua esposa, Umm Jamil, tornaram-se inimigos ferozes do Profeta quando este iniciou sua missão.

Assim, a pequena Fátima viu suas irmãs deixaram a casa paterna, uma após a outra, para irem viver com seus maridos. Ela era muito nova para compreender o significado do casamento e as razões pelas quais suas irmãs estavam indo embora. Fátima devotava grande amor às irmãs e se sentiu muito só. Conta-se que uma certa tristeza se abateu sobre ela.

É claro que naquele tempo, mesmo depois do casamento de suas irmãs, ela não ficou sozinha em casa de seus pais. Barakah, a serva de Aminah, mãe do Profeta, que tinha cuidado dele desde o seu nascimento, Zayd ibn Harithah e Ali, o filho de Abu Talib, faziam parte da casa de Mohammad. E claro que tinha sua amada mãe, Khadija.

Fátima encontrou em Barakah e em sua mãe grande consolo. Em Ali, que era dois anos mais velho do que ela, encontrou um "irmão" e amigo que, de alguma forma, havia ocupado o lugar de seu irmão al-Qasim, que havia morrido cedo. Abdullah,  seu outro irmão, conhecido como o Bom e Puro, que nasceu depois dela, também havia morrido ainda criança. No entanto, ninguém da casa de seu pai lhe dera tanta alegria e felicidade como suas irmãs. Ela era uma criança muito sensível para a sua idade.

Quando estava com 5 anos, soube que seu pai tinha-se tornado Rasul Allah, o Mensageiro de Deus. Os primeiros a receberem as boas novas do Islam foram sua família e os amigos mais chegados. Eles deviam adorar a Deus Todo Poderoso somente. Sua mãe, que era um baluarte de força e amparo, explicou a Fátima o que seu tinha que fazer. A partir daquele momento ela ficou mais intimamente ligada a ele, devotando-lhe um profundo e respeitoso amor. Muitas vezes ela sairia pelas ruas estreitas de Macca, visitando a Caaba ou assistindo aos encontros secretos dos primeiros muçulmanos que haviam abraçado o Islam e prometido fidelidade ao Profeta

Um dia, quando ainda não tinha dez anos, ela acompanhou seu pai à mesquita de al-Haram. Ele ficou no lugar conhecido como al-Hijr, de frente para a Caaba e começou a rezar. Fátima ficou de pé a seu lado. Um grupo de coraixitas mal intencionados começou a confabular sobre ele. Entre aquelas pessoas estavam Abu Jahl ibn Hisham, tio do Profeta, Uqbah ibn Abi Muayt, Umayyah ibn Khalaf, e Shaybah e Utbah, filhos de Rabi'ah. Ameaçadoramente, o grupo se dirigiu ao Profeta e Abu Jahl,   líder do grupo, perguntou:

"Quem de vocês pode trazer as tripas de um animal morto e atirá-las sobre Mohammad?"

Uqbah ibn Abi Muayt, um dos mais infames do grupo, se apresentou como voluntário e saiu correndo para providenciar. Voltou trazendo a porcaria e a atirou sobre os ombros do Profeta que jazia prostrado em adoração. Abdullah ibn Masud, um companheiro do Profeta a tudo assistiu, impotente para fazer ou dizer qualquer coisa.

Imagine-se os sentimentos de Fátima, vendo seu pai ser tratado desta maneira! O que podia uma menina de 10 anos fazer? Aproximou-se do pai,  retirou aquela sujeira e, então, firme e furiosamente ficou diante do grupo de fascínoras e começou a gritar com eles. Não disseram uma palavra. O Profeta levantou sua cabeça completando a prostração e seguiu com a oração. Então disse: "Ó Senhor, que os coraixitas sejam punidos!" e repetiu esta imprecação por três vezes. Depois continuou: "Que Utbah, Abu Jahl e Shaybah seja punidos." (Esses três morreram mais tarde na Batalha de Badr).

Em outra ocasião, Fátima estava com o profeta enquanto ele fazia tawaf em volta da Caaba. Uma turba de coraixitas se juntou em volta dele. Eles o agarraram e tentaram estrangulá-lo com suas próprias roupas. Fátima gritou por socorro. Abu Bakr correu até eles tentando libertar o Profeta, enquanto implorava:

"Vocês querem matar um homem que diz 'Meu Senhor é Deus?' " Longe de desistir, o grupo se voltou para Abu Bakr e começou a bater nele até que o sangue começou   a escorrer de sua cabeça e rosto.

Tais cenas de oposição feroz e perseguição contra seu pai e os primeiros muçulmanos foram testemunhadas pela jovem Fátima. Jamais ficou impassível a tudo isso, pelo contrário, partiu para a luta na defesa de seu pai e de sua nobre missão. Ela era ainda uma menina e ao invés das brincadeiras alegres, próprias das crianças de sua idade, Fátima presenciou e participou de tais provações.

É claro que ela não estava sozinha. Toda a família do Profeta sofreu com essa insana violência dos coraixitas. Suas irmãs, Ruqayyah e Umm Kulthum, também sofreram. Nessa época elas estavam morando no ninho de ódio e intriga contra o Profeta. Afinal, os maridos eram Utbah e Utaybah, filhos de Abu Lahab e Umm Jamil. Umm Jamil era conhecida por ser uma mulher mesquinha e inflexível, que tinha uma língua ferina. Tinha sido exatamente por causa dela que Khadija não tinha ficado satisfeita com o casamento das filhas. Deve ter sido doloroso para Ruqayyah e Umm Kulthum viver na casa desses inimigos que, ao invés de se juntarem ao seu pai, empreenderam uma terrível campanha para destruí-lo.

Como sinal da desgraça sobre Mohammad e sua família, Utbah e Utaybah foram obrigados por seus pais a se divorciarem das esposas. Isto fazia parte do processo de lançar Mohammad ao total ostracismo. O Profeta, na verdade, recebeu suas filhas de volta com alegria, felicidade e alívio.

Fátima, com certeza, mais feliz ainda, por estar de novo com suas irmãs. Agora todos na família queriam que a irmã mais velha, Zaynab, também se divorciasse do marido. De fato os coraixitas fizeram pressão para que Abul Aas se divorciasse da filha do Profeta, mas ele se recusou. Quando os líderes dos coraixitas vieram ter com ele e lhe prometeram a mais bela e mais rica mulher como esposa se ele se divorciasse de Zaynab, ele respondeu:

"Amo minha esposa profunda e apaixonadamente e tenho grande respeito por seu pai, muito embora eu não tenha entrado para a religião do Islam."

Tanto Ruqayyah quanto Umm Kulthum estavam felizes com o retorno para a casa dos pais e por estarem livres da insuportável tortura mental a qual foram submetidas na casa de Umm Jamil. Um pouco depois, Ruqayyah se casou de novo com o jovem Uthman ibn Allan, que estava entre os primeiros a aceitar o Islam. Eles seguiram para Abissínia juntamente com os primeiros muhajirin que buscaram refúgio naquelas terras e ficaram por lá muitos anos. A perseguição ao Profeta, sua família e seguidores continuou, piorando depois da migração dos primeiros muçulmanos para a Abissínia. No sétimo ano de sua missão, o Profeta e sua família foram forçados a deixar a casa e buscar refúgio num pequeno e escarpado vale circundado por montanhas por todos os lados e um desfiladeiro, que só podia ser alcançado através de uma passagem estreita.

Neste vale árido, Mohammad e os clãs de Banu Hashim e al-Muttalib foram forçados a viver com alimentação racionada. Fátima era um dos membros mais jovens dos clãs - cerca de 12 anos - e teve que suportar meses de sofrimento e privação. O choro das mulheres e crianças famintas podia ser ouvido em Macca. Os coraixitas não permitiam qualquer contato com os muçulmanos, cujo sofrimento diminuía um pouco durante o período da peregrinação. Esse boicote durou três anos. Quando foi suspenso, o Profeta teve que enfrentar mais provas e dificuldades. Khadija, a amada e fiel esposa, morreu um pouco depois. Com sua morte, o Profeta e sua família perdeu uma das suas maiores fontes de conforto e força, que os sustentou durante os dias de grandes dificuldades. O ano em que Khadija, e logo depois Abu Talib, morreram é conhecido como o "Ano da Tristeza". Fátima, agora uma adolescente, sofreu com a morte de sua mãe. Ela chorou muito e durante algum tempo  ficou tão abalada que isso teve repercursões sobre sua saúde. Temia-se até que ela pudesse morrer de tristeza.

Embora sua irmã mais velha, Umm Kulthum, estivesse em casa, Fátima percebeu que agora ela tinha uma responsabilidade maior com a morte da mãe. Ela sentia que tinha que dar um apoio maior a seu pai. Com ternura e carinho ela se dedicou a cuidar de  suas necessidades. Ela era tão preocupada com o seu bem estar que chegou a ser chamada de "Umm Abi-ha" (a mãe de seu pai). Ela também o amparou nos difíceis tempos de provas e crises.

Muitas vezes as provações eram demais para ela. Certa vez, uma turba de insolentes atirou poeira e terra sobre a cabeça do Profeta. Quando ele entrou em casa, Fátima chorou muito, enquanto tiram a poeira da cabeça de seu pai.

"Não chore, minha filha, porque Deus protegerá seu pai."

O Profeta tinha um carinho especial por Fátima. Uma vez ele disse: "Quem quer que agrade Fátima, na verdade agrada a Deus e quem quer que lhe cause tristeza na verdade desagra a Deus. Fátima é uma parte de mim. O que quer que lhe agrade me agrada e o que quer que lhe desagrade me desagrada."

Também disse: "As melhores mulheres do mundo são quatro: a Virgem Maria, Aasiyaa, esposa do Faraó, Khadija, Mãe dos Crentes, e Fátima, a filha de Mohammad." Assim, Fátima conquistou um lugar especial no coração do Profeta, antes ocupado apenas por sua esposa Khadija.

Por causa de seu rosto brilhante, que parecia uma luz radiante, Fátima recebeu o título de "az-Zahraa", que significa "a resplandescente". Conta-se que quando ela ia rezar, o mihrab refletia a luz de seu semblante. Também era conhecida por "al Batul" por causa de seu asceticismo. Ao invés de ficar na companhia das mulheres, passava a maior parte do seu tempo em oração, lendo o Alcorão e assistindo os pobres.

Fátima tinha uma forte semelhança com seu pai. Aisha, a esposa do Profeta, disse sobre ela: "Jamais vi nada na criação de Deus que lembrasse mais o Mensageiro de Deus na palavra, nas conversas e no modo de sentar, do que Fátima. Quando o Profeta a via chegar, ele a cumprimentava, se levantava e a beijava, tomava-a pela mão e a fazia sentar-se no lugar onde ele estava sentado."   Ela fazia a mesma coisa quando ele ia visitá-la. Ela se levantava, cumprimentava-o com alegria e o beijava.

O modo fino e gentil de falar era parte de sua personalidade afetuosa e amorosa. Ela era especialmente amável com os pobres e indigentes e algumas vezes distribuia toda a comida que tinha para aqueles necessitados, ainda que ela mesma ficasse com fome. Não tinha desejos pelas coisas deste mundo nem almejava uma via luxuosa e confortável. Vivia de maneira simples, embora em certas ocasiões, que veremos adiante, as circunstâncias pareciam ser muito difíceis para ela.

Ela herdou de seu pai uma eloquência persuasiva, cheia de sabedoria. Quando falava, as pessoas muitas vezes chegavam às lágrimas. Tinha a habilidade e a sinceridade de despertar as emoções, levar as pessoas às lágrimas e encher seus corações com louvor e gratidão a Deus por Suas graças e inestimáveis bênçãos.

Fátima migrou para Medina poucas semanas após o Profeta. Ela foi com Zayd ibn Harithah, que havia sido mandado pelo Profeta para trazer o resto de sua família. O grupo incluía Fátima e Umm Kulthum, Sawdah, a esposa do Profeta, Barakah, a esposa de Zayd e seu filho Usamah. Viajando com eles, também estava Abdullah, o filho de Abu Bakr, que acompanhava sua mãe e tia, Aisha e Asma.

Em Medina, Fátima viveu com seu pai numa casa simples que tinha sido construída perto da mesquita. No segundo ano depois da Hégira, ela recebeu várias propostas de casamento. Ali, o filho de Abu Talib, armou-se coragem e foi pedir ao Profeta a mão de sua filha em casamento. No entanto, quando na presença do Profeta, Ali ficou paralisado. Olhava para o chão e não conseguia dizer nada. O Profeta, então, lhe perguntou: "Por que você veio? Está precisando de alguma coisa?" Mas Ali não conseguia dizer uma palavra e então o Profeta sugeriu: "Talvez você tenha vindo para propor casamento a Fátima." "Sim", ele respondeu. Em seguida, de acordo com relatos, o Profeta disse simplesmente "Marhaban wa ahlan" (seja benvindo). Um outro relato conta que o Profeta aprovou e perguntou a Ali se ele tinha alguma coisa para dar como dote. Ele respondeu que não tinha. O Profeta o fez lembrar-se de que tinha um escudo que podia ser vendido. Ali vendeu-o a Uthman por 400 dirhams e voltou correndo ao Profeta dando a ele a quantia apurada como dote. Uthman interrompeu-o e disse: "Devolvo-lhe seu escudo como meu presente de casamento."

Fátima e Ali se casaram provavelmente no início do segundo ano após a Hégira. Ela devia ter perto de 19 anos e Ali 21. O próprio Profeta celebrou a cerimônia de casamento. Os convidados foram servidos com tâmaras, figos e "hais" (uma mistura de tâmaras e manteiga). Um membro dos ansar deu de presente um carneiro e os outros ofertaram grãos. Toda Medina se rejubilou.

Diz-se que o Profeta presenteou o casal com uma cama de madeira, entrelaçada com folhas de palmeira, uma manta de veludo, uma almofada de couro, uma pele de carneiro, um vaso e um moedor de grãos.

Pela primeira vez Fátima deixou a casa de seu amado pai para começar uma nova vida com o marido. O Profeta estava nitidamente preocupado com ela e mandou Barakah para ajudá-la em caso de necessidade. Sem dúvida, Barakah foi uma inestimável fonte de conforto e consolo para Fátima. E o Profeta rezou por eles:

"Ó Senhor, abençoe a ambos, a sua casa e a sua descendência." Na casa humilde de Ali, só havia uma pele de carneiro para a cama. Na manhã seguinte ao casamento, o Profeta foi até lá e bateu na porta. Barakah veio atender e o Profeta lhe disse: "Ó Umm Ayman, chame meu irmão para mim." "Seu irmão? Aquele que se casou com sua filha?" perguntou Barakah algo incrédula, como se quisesse dizer: Por que o Profeta chama Ali de seu irmão? (Ele se referia a Ali como seu irmão porque depois da Héjira os muçulmanos estavam ligados numa fraternidade, assim o Profeta e Ali estavam ligados como "irmãos").

O Profeta repetiu o que tinha dito numa voz mais alta. Ali chegou e o Profeta invocou as bênçãos de Deus sobre ele. A seguir, ele perguntou por Fátima. Ela apareceu quase que se encolhendo, entre espantada e tímida, e o Profeta lhe disse:

"Eu casei você com o mais querido de minha família." Desta forma, ele procurou tranquilizá-la. Ela não estava começando uma vida nova com alguém estranho, mas sim com um que havia sido criado na mesma casa, que estava entre os primeiros a abraçarem o Islam ainda muito novo, que era conhecido por sua coragem, bravura e virtude, e a quem o Profeta descrevia com seu "irmão neste mundo e no outro."

A vida de Fátima com Ali foi tão simples e frugal como havia sido em casa de seu pai. Na verdade, ao invés de conforto material foi uma vida de dificuldades e privações. Durante toda a vida em comum, Ali permaneceu pobre e não conseguiu fazer uma fortuna material. Fátima era a única de suas irmãs que não tinha se casado com um homem rico. Pode-se dizer que a vida de Fátima com Ali foi até mais severa do que a que levava em casa de seu pai. Pelo menos, antes do casamento, enquanto vivia na casa do Profeta, não lhe faltavam inúmeras mãos sempre prontas para ajudar. Mas agora, ela tinha que administrar tudo por conta própria. Para diminuir a extrema pobreza, Ali trabalhava como carregador de água enquanto ela moía o milho. Um dia ela disse a Ali: "Tenho trabalhado a terra até fazer bolhas em minhas mãos."

"Eu tenho tirado água até meu peito doer." respondeu. Ali, então, sugeriu a Fátima: "Deus deu a seu pai alguns prisioneiros de guerra, portanto, vá e peça a ele para lhe ceder um servo."

Relutante, ela foi ter com o Profeta, que disse: "O que a traz aqui, minha filhinha?" "Vim lhe apresentar minhas saudações de paz," ela respondeu, porque, com vergonha dele, não conseguiu dizer o que estava pretendendo.

"O que você fez?", perguntou Ali quando ela voltou sozinha.

"Eu fiquei envergonhada de pedir a ele", ela disse. Então, os dois foram juntos, mas o Profeta sentiu que eles tinham menos necessidade do que os outros.

"Não lhes darei", ele disse, "os Ahlas Suffah (muçulmanos pobres que ficavam na mesquita) estão atormentados pela fome. Não tenho o bastante para ..."

Ali e Fátima retornaram para casa, sentindo-se um pouco rejeitados, mas naquela noite, após terem ido para cama, eles ouviram a voz do Profeta pedindo permissão para entrar. Puseram-se de pé e ele lhes disse:

"Fiquem onde estão" e sentou-se ao lado deles. "Posso dizer-lhes alguma coisa melhor do que aquela que vocês me pediram?" Eles responderam "Sim" e ele disse: "As palavras que Gabriel me ensinou, que vocês devem dizer "Subhana Allah" (Glorificado seja Deus) dez vezes depois de cada oração, e dez vezes "Alhamdul lillah "Louvado seja Deus) e dez vezes "Allahu Akbar" (Deus é o maior). E que quando vocês forem para a cama devem dizer trinta e três vezes cada uma."

Alguns anos mais tarde, Ali costumava dizer: "Desde que o Mensageiro de Deus nos ensinou aquelas palavras, nunca deixei de dizê-las uma única vez."

Existem muitos relatos sobre os tempos difíceis que Fátima enfrentou. Muitas vezes não havia comida em sua casa. Certa vez o Profeta estava com fome. Ele foi a casa de cada uma de suas esposas, mas não havia comida. Então, foi até a casa de Fátima, e, também lá não havia comida. Quando finalmente ele conseguiu alguma coisa, ele mandou dois pães e um pedaço de carne para Fátima. Uma outra vez, ele foi a casa de Abu Ayyub al-Ansari e, da comida que lhe deram, ele separou um pouco para ela. Fátima tanbém sabia que o Profeta ficava sem alimento por longos períodos e, em troca, lhe mandava comida quando conseguia alguma. Uma vez ela lhe levou um pedaço de pão de cevada e ele lhe disse: "Este é o primeiro alimento que seu come em três dias."

Através desses gestos de delicadeza, ela mostrava como amava o pai e ele a amava também.

Uma vez, ele voltava a Medina de uma de suas viagens, e se dirigiu primeiro para a mesquita, rezou duas "rakat", como era de seu costume. Em seguida, como sempre fazia, foi à casa de Fátima antes de ir ver suas esposas. Ela o recebeu, beijou seu rosto e sua face e chorou.

"Por que você está chorando?" perguntou o Profeta.

"Estou olhando para você, ó Rasul Allah, amarelo, pálido, suas roupas estão gastas e esfarrapadas." "Ó Fátima" o Profeta respondeu ternamente, "não chore, porque Deus enviou seu pai com uma missão que influenciará cada casa sobre a face da terra, seja nas cidades, vilas ou tendas (no deserto), trazendo glória ou humilhação até que esta missão esteja completa, como a noite, que sempre chega (inevitavelmente)."

Com tais comentários, Fátima muitas vezes se esquecia da realidade dura da vida diária e conseguia vislumbrar a grandeza da missão confiada a seu nobre pai.

Finalmente, Fátima voltou a morar numa casa próxima à do Profeta. O lugar foi doado por um ansar que sabia que o Profeta ficaria contente em ter sua filha perto dele. Juntos, eles dividiram as alegrias e triunfos, as tristezas e dificulddes daqueles anos graves e turbulentos em Medina.

Em meados do segundo ano após a Hégira, um pouco antes da campanha de Badr, sua irmã Ruqayyah ficou doente, com febre e sarampo. Uthman, seu marido, ficou com ela e acabou não indo para os campos de batalha. Ruqayyah acabou morrendo um pouco antes do retorno de seu pai. Quando ele chegou a Medina, um de seus primeiros atos foi o de visitar túmulo da filha, na companhia de Fátima. Esta foi a primeira perda de um parente próximo, desde a morte de Khadija. Fátima ficou profundamente triste com a morte da irmã. Ao chegarem ao túmulo de Ruqayyah, as lágrimas corriam de seus olhos e o Profeta a confortou e procurou enxugar suas lágrimas com a ponta de seu manto.

O Profeta havia se manifestado anteriormente contra as lamentações pelos mortos, mas isto levou a uma interpretação errada e, quando eles retornavam do cemitério, a voz de Umar se fazia ouvir, imprecando contras as mulheres que choravam pelos mártires de Badr e por Ruqayyah.

"Umar, deixe-as chorar", ele disse e, em seguida, acrescentou: "O que vem do coração e do olho, é de Deus e de Sua Misericórdia, mas o que vem da mão e da língua, é de Satanás." Por mão, ele queria se referir àquelas pessoas que batem no peito e arranham o rosto, e por língua queria se referir aos lamentos das carpideiras.

Uthman mais tarde se casou com a outra filha do Profeta, Umm Kulthum, e por causa disso, ficou conhecido como Dhu-n Nurayn, o possuidor de Duas Luzes.

O luto sofrido pela família com a morte de Ruqayyah foi seguido de grande felicidade, quando Fátima deu à luz um menino, no mês de Ramadã do terceiro ano após a Hégira. O Profeta disse as palavras de Adhan no ouvido do recém-nascido e deu-lhe o nome de Al-Hasan, que significa o Belo.

Um ano mais tarde, nasceu outro menino que se chamou Al-Husayn, que significa "o pequeno Hasan". Seguidamente Fátima trazia seus dois filhos para visitarem o avô, que era extremamente carinhoso com eles. Mais tarde, ele os levava à Mesquita e eles subiam em suas costas enquanto estava prostrado. Ele também fazia o mesmo com a neta Umamah, filha de Zaynab.

No oitavo ano após a Hégira, Fátima deu à luz uma menina, a quem ela deu o nome de sua irmã mais velha, Zaynab, que havia morrido um pouco antes de seu nascimento. Esta filha de Fátima ficou famosa como a "Heroína de Karbala". O quarto filho de Fátima foi uma menina a quem ela deu o nome de Umm Kulthum, em homenagem à irmã que havia morrido depois de uma doença.

Foi apenas através de Fátima que a descendência do Profeta se perpetuou. Todos os filhos de Mohammad morreram ainda na infância e os dois filhos de Zaynab, de nome Ali e Umamah, morreram jovens. O filho de Ruqayyah também morreu quando ainda não tinha dois anos de idade. Esta é mais uma razão de reverência que é concedida à Fátima.

Embora Fátima fosse muito ocupada cuidando das crianças, ela tomou parte, na medida do possível, nos assuntos afetos ao crescimento da comunidade muçulmana de Medina. Antes de seu casamento, ela era uma espécie de protetora dos pobres e desvalidos. Assim que a Batalha de Uhud terminou, ela foi com outras mulheres ao campo de batalha e chorou pelos mártires mortos e ainda arrumou tempo para cuidar das feridas de seu pai. Na Batalha de Ditch, ela desempenhou um papel muito importante, juntamente com outras mulheres, preparando comida durante o longo e difícil cerco. Ela orientou as mulheres nas orações e naquele lugar existe uma mesquita com o nome de Masjid Fatimah, uma das setes em que os muçulmanos guardavam e praticavam suas devoções.

Fátima também acompanhou o Profeta quando ele fez a Umrah, no sexto ano após a Hégira, depois do Tratado de Hudaybiyyah. No ano seguinte, ela e sua irmã Umm Kulthun estavam entre os muçulmanos que participaram, junto com o Profeta, da libertação de Macca. Diz-se que naquela ocasião, tanto Fátima como Umm Kulthun, visitaram a casa de sua mãe, Khadija, e rememoram os tempos da infância e da jihad, das longas lutas nos primeiros anos da missão do Profeta.

No Ramadã do décimo ano, um pouco antes de ela fazer a Peregrinação do Adeus, o Profeta confidenciou à Fátima, como segredo que ainda não podia ser revelado aos outros:

"Gabriel recitava o Alcorão para mim e eu para ele, uma vez a cada ano, mas este ano ele recitou duas vezes. Acho que minha hora chegou."

Na sua volta da Peregrinação do Adeus, o Profeta ficou seriamente doente. Seus últimos dias foram passados na casa de sua esposa Aisha. Quando Fátima vinha visitá-lo, Aisha deixava os dois sozinhos.

Um dia ele chamou Fátima. Quando ela chegou, ele a beijou e sussurrou algumas palavras em seu ouvido. Ela chorou. De novo ele sussurou em seu ouvido e ela sorriu. Aisha viu e perguntou:

"Você chorou e sorriu ao mesmo tempo, Fátima. O que o Mensageiro de Deus lhe disse?" Ela respondeu:

"Primeiro ele me disse que irá se encontrar com o seu Senhor daqui a pouco, e eu chorei. Depois ele me disse: 'Não chore porque você será a primeira de minha casa a se juntar a mim', e eu sorri."

´Não demorou muito e o nobre Profeta morreu. Fátima ficou muito abalada e muitas vezes ela foi vista chorando profusamente. Um dos companheiros percebeu que nunca mais viu Fátima sorrir depois da morte de seu pai.

Uma manhã, no início do mês de Ramadã, um pouco menos de 5 meses depois da morte do pai, Fátima acordou parecendo muito feliz e cheia de alegria. Na tarde desse dia, conta-se que ela chamou Salma bint Umays, que cuidava dela, e pediu para se banhar. Depois vestiu roupas novas e se perfumou. Em seguida pediu a Salma que levasse sua cama para o quintal da Casa. Com o rosto voltado para o céu, ela pediu que chamasse o marido Ali.

Ele se surpreendeu quando viu a cama no meio do quintal e perguntou a ela o que havia de errado. Ela sorriu e disse: "Tenho um encontro hoje com o Mensageiro de Deus."

Ali chorou e ela tentou consolá-lo. Ela lhe disse para cuidar dos filhos al-Hasan e al-Husayn e pediu para ser enterrada sem cerimônias. Olhou para cima mais uma vez e então fechou os olhos e entregou sua alma ao Criador Todo Poderosos.

Fátima, a Resplandescente, tinha apenas 29 anos de idade. 

Fonte: sbmrj.org.br

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