Dia das bruxas (Halloween)

 Questão: O dia das bruxas (halloween) é celebrado todos os anos nos EUA. É um evento religioso? Qual o ponto de vista islâmico sobre essa comemoração?

Nome do Mufti: Idris Palmer

 Resposta: O “dia das bruxas” é uma celebração anual ocidental baseada em doutrinas pagãs célticas e européias em geral, tradicionalmente comemorada em 31 de Outubro. Ela é derivada de rituais envolvendo o espírito dos mortos e o culto ao demônio e simboliza o início do antigo ano novo dos druidas, que afirmavam que os mortos revistavam seus lares nessa época. Em essência, o dia das bruxas representa o ano novo dos adoradores do diabo. A comemoração desse dia pelos muçulmanos é assim pecaminosa e haram, pois envolve os piores elementos do politeísmo e descrença. Na verdade, a participação no dia das bruxas é pior que participar do Natal, Páscoa ou Sexta-feira Santa, porque tais datas ao menos comemoram o nascimento e suposta morte de um profeta, enquanto o dia das bruxas é uma comemoração dos adoradores de Satã. Assim, participar dessa festa é pior que se congratular com os cristãos na sua prostração diante da cruz. Para um correto entendimento da moderna celebração americana de 31 de Outubro, nós devemos observar as três antigas celebrações que foram reunidas no atual dia das bruxas.

O primeiro dos seus precursores data da Irlanda e Escócia pré-cristã, de uma celebração dos sacerdotes druidas ou celtas. O ano celta começava em 1º de Novembro com um festival chamado Samhain. Os antigos druidas acreditavam que naquela noite , Saman, o “senhor dos mortos”,  chamava as hostes de espíritos malignos. Na noite de Samhain, 31 de Outubro, bandos de jovens risonhos fantasiavam-se com máscaras grotescas e carregavam lanternas feitas de nabos pelos vilarejos. Era um festival da colheita ao mesmo tempo que um festival dos mortos. Os druidas acreditavam que era nessa noite que a terra entrava em contato próximo com o mundo espiritual e conseqüentemente fantasmas,  goblins (uma entidade maligna e de aparência grotesca do folclore druida – N. do T.), e bruxas supostamente destruíam lavouras, matavam animais de fazenda e lançavam desgraças sobre os aldeões. De acordo com suas crenças, enquanto os espíritos dos mortos vagavam em torno, os aldeões acendiam fogueiras para espanta-los ou guiá-los de volta para seus lares.

Entre os celtas, o Halloween era a última noite do ano e era considerado um bom momento para examinar os eventos futuros. Os celtas também acreditavam que os espíritos dos mortos revistavam seus lares nessa noite. Depois que os romanos conquistaram a Bretanha, eles adicionaram ao Halloween características do festival da colheita celebrado em 1º de Novembro em honra de Pomona, deusa dos frutos e árvores.

 O segundo precursor do Halloween data da Idade das Trevas na Europa central. Ali, a Igreja Cristã destruiu muitos templos de vários deuses e deusas gregos, como Diana e Apollo. No entanto esses cultos pagãos nunca foram totalmente erradicados e tomaram a forma de feitiçaria. Um dos aspectos mais importantes da feitiçaria é um certo número de celebrações anuais, que são chamadas de “Sabbaths das Bruxas”. Um dos “Sabbaths das Bruxas” mais importantes é o “Grande Sabbath” ou “Sabbath Negro das Bruxas” comemorado em 31 de Outubro. Hoje em dia muito do folclore do dia das bruxas, como gatos pretos, vassouras, caldeirões e feitiços, vêm do Sabbath Negro.

 O terceiro precursor do Halloween data do início da Igreja Católica Romana. A Igreja designou dias específicos para honrar cada um de seus santos e, basicamente, faltavam dias no ano para lembrar a todos; assim, eles decretaram um dia para lembrar todos os santos, o Dia de Todos os Santos. No século oito, o papa Gregório III mudou o Dia de Todos os Santos de 13 de Maio para 1º de Novembro. No ano de 834 o papa Gregório IV estendeu essa celebração à toda a Igreja Católica Romana. Esse evento era chamado de “Allhallowmass” (All= todos; hallow= santos; mass= “massa, conjunto”. N do T) e, como é fácil supor, havia uma celebração na noite de 31 de Outubro chamada “All hallow E’en”, “all hallow” significando “ todos aqueles que são santos” (e “E’en” sendo a contração de “evening” = noite; N do T). A contração das palavras “hallow” e “e’em” criou a palavra Halloween.

 A tradição celta de acender fogueiras no Halloween sobrevive até hoje na Escócia e no País de Gales, enquanto o conceito de fantasmas e feiticeiras é comum a todas as celebrações do Halloween. Traços dos festivais romanos da colheita sobrevivem no costume, que prevalece nos EUA e na Grã-Bretanha, de fazer brincadeiras envolvendo frutos, como mergulhar a cabeça em uma tina de água e tentar abocanhar uma maçã. De origem similar são as “jack-o-lanterns”, abóboras escavadas com feições grotescas e iluminadas por velas em seu interior. As “jack-o-lanterns”, também chamadas de “will-o-the-whisp” (? – dica: “whisp” vem de “whispering”, “sussurro”; “will” pode significar “vontade” ou “será” – N do T), “fox fire” (fogo da raposa – N do T) e lanterna do cadáver,  entre outros nomes, eram consideradas almas errantes que não encontravam refúgio nem no céu, nem no inferno por terem cometido algum ato particularmente maligno durante sua vida. Os Finlandeses acreditavam que tais lanternas eram a alma de crianças enterradas na floresta. As lanternas dos cadáveres eram pequenas chamas flutuantes se movendo na escuridão e que os supersticiosos acreditavam ser um sinal da morte iminente do observador. Segundo o folclore antigo, a “will-o-the-whisp” vagueia sobre os pântanos, seduzindo as vítimas a seguirem-na. Esses estranhos fogos também eram conhecidos por “fogo dos tolos”, porque de acordo com a lenda, apenas um tolo o seguiria. A atual “cara-de-abóbora” é um símbolo desse espírito zombador. Além disso, o costume moderno de dar doces às crianças que vão mendigando de porta em porta “trick or treat” (“travessura ou gostosura”), tem sua origem no festival de ano novo na Irlanda. Na Irlanda se acreditava que os espíritos se amontoavam nas casas dos vivos e deveriam ser saudados com um banquete. No fim da festa, os aldeões se fantasiavam como as almas dos mortos e desfilavam para longe das vilas com a intenção de conduzir os espíritos para fora. Eles acreditavam que desse modo poderiam evitar quaisquer calamidades que os mortos pudessem trazer. Outra forma dos aldeões tentarem apaziguar os mortos era colocando bacias com frutas e outras guloseimas para que os espíritos se fartassem delas e os deixassem em paz. (Uma variação dessa prática acontece hoje em dia no México, na celebração do Dia dos Mortos, quando pães e bolos são colocados sobre os túmulos dos seres amados, na crença de que tais espíritos irão se servir dos alimentos.) Mais tarde, quando a crença em fantasmas e goblins declinou, jovens se vestiam como fantasmas e goblins e ameaçavam fazer travessuras com aqueles que não fossem generosos na oferta de guloseimas.

Como então deve o muçulmano compreender esse assunto a luz da Shari’ah?  Primeiro, o Profeta disse em uma narrativa autêntica: “Aquele que se parece com um povo, faz parte dele”. Essa é uma declaração geral que proíbe os muçulmanos de imitarem os kuffar. Qualquer muçulmano que participa de celebrações não-islâmicas, principalmente as que envolvem claramente shirk e kufr, está pedindo que a ira de Allah descenda sobre ele assim como tem atingido os não-muçulmanos. Allah ta’ala diz: “...Aqueles que não testemunham falsidades e, quando se deparam com atos ou palavras malignas, se afastam com dignidade” (Al-Furqan, 25;72). De acordo com os principais Companheiros e seus estudantes, como Mujaahid, Rabi’ibn Anas e Adh-Dhahhak , a palavra “falsidade” usada acima refere-se às celebrações dos mushrikeen. Outros comentadores como Muhammad ibn Sireen são mais explícitos em suas explicações, afirmando que esse versículo define “as pessoas de shirk praticando seu shirk, e (o versículo nos adverte) a não participarmos com eles”. Assim, os crentes são designados neste versículo como aqueles que “não testemunham falsidades”. O muito estimado estudioso do tafseer, At-Tabari, dá mais explicações: “Não é permitido aos muçulmanos participarem dos dias santos e festividades deles (os descrentes) porque eles são exemplos de falsidade e mal. E nós tememos que a ira de Allah venha sobre nós por causa de suas reuniões”. Então a semelhança mencionada aqui refere-se a todas as situações acima.  At-Tabari também coloca que os crentes “não ajudam o povo idólatra em sua idolatria, nem se associam a eles”. É parte da Sunnah do Profeta que nos diferenciássemos dos não-muçulmanos, particularmente naqueles assuntos que são específicos dos não-muçulmanos. Em Sunan Abi Dawud, Anas ibn Malik diz que quando o Profeta chegou a Medinah , havia o costume de celebrarem dois festivais nos quais as pessoas praticavam esportes. Então o Profeta perguntou “O que são esses dois dias?” e lhe responderam “Nós costumávamos praticar esportes nesses dias durante a jahiliyah (o período anterior ao Islã)”. O Profeta disse: “Em verdade Allah lhes concedeu dois dias melhores, o Dia de Adha e o Dia de Fitr”. Isso não apenas demonstra que o Profeta não reconhecia as datas não-islâmicas, mas também que Allah dignificou os muçulmanos com festividades que eram do Seu agrado e superiores em mérito. Os Companheiros entenderam esse princípio e aplicaram-no plenamente. Por exemplo, Abdullah ibn `Umar disse que “quem habita em terras de não-muçulmanos, celebra suas datas de Ano Novo, e comporta-se como eles até o dia de sua morte, será reunido a eles no Dia da Ressurreição”. Concluindo, espero que este breve ensaio esclareça o assunto sobre as origens do dia das bruxas e a posição Islâmica sobre ele. Também espero que os muçulmanos ponham essa orientação em prática e que os pais muçulmanos orientem e advirtam seus filhos de acordo e não permitam sua participação nessas celebrações. E Allah sabe mais e para Ele tudo retorna. Ameen.

 

Fatwa: 2337  ( www.islamonline.net )

Data: 20/10/1999

 

Tradução: Irmã Mariam Polga

  • quarta-feira, 19 março 2008

Deixe um comentário

Está a comentar como convidado. Login opcional abaixo.